Em virtude de uma pequena viagem para o Norte de Portugal para o casamento de um sobrinho, vou estar ausente do blog por uns dias.
Boa semana para todas e todos.
Poéticas ao acaso
segunda-feira, 9 de junho de 2014
sábado, 7 de junho de 2014
Uma poesia do poeta equatoriano Edgar Allan García:
COSMOGONÍA ELEMENTAL
en el principio era el caos
entonces apareció ella y puso la ropa
en su lugar los zapatos en su lugar
la hermosura en su lugar y el corazón
del hombre en el lugar preciso
durante los restantes nueve períodos
construyó universos semejantes
a un cuarto de juegos para que en él
retozaran gritos balbuceos y risas infantiles
(vibraciones desconocidas hasta entonces
en aquel espacio desolado)
al amanecer del tiempo noveno
emergió él (primogénito conforme
a sus semejanzas) de las entrañas de ella
y en un principio fue el niño más dulce
la alegría más profunda el más educado
y sumiso y ordenado (o casi) pero pronto
anheló conocer mejor
palpar otros mundos
desafiar la gravedad y el poder
besar la redondez primigenia
de otros cuerpos
desde entonces vive de su sudor
en un barrio de seres extraviados
luminosos absurdos como el caos.
COSMOGONÍA ELEMENTAL
en el principio era el caos
entonces apareció ella y puso la ropa
en su lugar los zapatos en su lugar
la hermosura en su lugar y el corazón
del hombre en el lugar preciso
durante los restantes nueve períodos
construyó universos semejantes
a un cuarto de juegos para que en él
retozaran gritos balbuceos y risas infantiles
(vibraciones desconocidas hasta entonces
en aquel espacio desolado)
al amanecer del tiempo noveno
emergió él (primogénito conforme
a sus semejanzas) de las entrañas de ella
y en un principio fue el niño más dulce
la alegría más profunda el más educado
y sumiso y ordenado (o casi) pero pronto
anheló conocer mejor
palpar otros mundos
desafiar la gravedad y el poder
besar la redondez primigenia
de otros cuerpos
desde entonces vive de su sudor
en un barrio de seres extraviados
luminosos absurdos como el caos.
sexta-feira, 6 de junho de 2014
Uma poesia de Almeida Garrett:
Perfume da Rosa
Perfume da Rosa
Quem bebe, rosa, o perfume
Que de teu seio respira?
Um anjo, um silfo? ou que nume
Com esse aroma delira?
Qual é o deus que, namorado,
De seu trono te ajoelha,
E esse néctar encantado
Bebe oculto, humilde abelha?
- Ninguém? - Mentiste: essa frente
Em languidez inclinada,
Quem ta pôs assim pendente?
Dize, rosa namorada.
E a cor de púrpura viva
Como assim te desmaiou?
e essa palidez lasciva
Nas folhas quem ta pintou?
Os espinhos que tão duros
Tinhas na rama lustrosa,
Com que magos esconjuros
Tos desarmam, ó rosa?
E porquê, na hástea sentida
Tremes tanto ao pôr do sol?
Porque escutas tão rendida
O canto do rouxinol?
Que eu não ouvi um suspiro
Sussurrar-te na folhagem?
Nas águas desse retiro
Não espreitei a tua imagem?
Não a vi aflita, ansiada...
- Era de prazer ou dor? -
Mentiste, rosa, és amada,
E também tu amas, flor.
Mas ai! se não for um nume
O que em teu seio delira,
Há-de matá-lo o perfume
Que nesse aroma respira.
Que de teu seio respira?
Um anjo, um silfo? ou que nume
Com esse aroma delira?
Qual é o deus que, namorado,
De seu trono te ajoelha,
E esse néctar encantado
Bebe oculto, humilde abelha?
- Ninguém? - Mentiste: essa frente
Em languidez inclinada,
Quem ta pôs assim pendente?
Dize, rosa namorada.
E a cor de púrpura viva
Como assim te desmaiou?
e essa palidez lasciva
Nas folhas quem ta pintou?
Os espinhos que tão duros
Tinhas na rama lustrosa,
Com que magos esconjuros
Tos desarmam, ó rosa?
E porquê, na hástea sentida
Tremes tanto ao pôr do sol?
Porque escutas tão rendida
O canto do rouxinol?
Que eu não ouvi um suspiro
Sussurrar-te na folhagem?
Nas águas desse retiro
Não espreitei a tua imagem?
Não a vi aflita, ansiada...
- Era de prazer ou dor? -
Mentiste, rosa, és amada,
E também tu amas, flor.
Mas ai! se não for um nume
O que em teu seio delira,
Há-de matá-lo o perfume
Que nesse aroma respira.
quinta-feira, 5 de junho de 2014
Reponho uma poesia do poemário Sombras luminosas:
Trece rosas
António Eduardo Lico
Trece rosas
Solo en
el Verano las rosas son rosas
y en
Agosto todas la rosas se vuelven rojas
Dime lo
que contemplas
lunita
del cementerio del Este?
Ay, yo
solo puedo ver las rosas
las
rosas que se van a morir
Ya se
tocan seguidillas
ya
lloran los pañuelos
En el
cementerio del Este
hay trece rosas rojasAntónio Eduardo Lico
Uma poesia de Alexandre Herculano:
A Voz
A Voz
É tão suave ess'hora,
Em que nos foge o dia,
E em que suscita a Lua
Das ondas a ardentia,
Se em alcantis marinhos,
Nas rochas assentado,
O trovador medita
Em sonhos enleado!
O mar azul se encrespa
Coa vespertina brisa,
E no casal da serra
A luz já se divisa.
E tudo em roda cala
Na praia sinuosa,
Salvo o som do remanso
Quebrando em furna algosa.
Ali folga o poeta
Nos desvarios seus,
E nessa paz que o cerca
Bendiz a mão de Deus.
Mas despregou seu grito
A alcíone gemente,
E nuvem pequenina
Ergueu-se no ocidente:
E sobe, e cresce, e imensa
Nos céus negra flutua,
E o vento das procelas
Já varre a fraga nua.
Turba-se o vasto oceano,
Com hórrido clamor;
Dos vagalhões nas ribas
Expira o vão furor,
E do poeta a fronte
Cobriu véu de tristeza;
Calou, à luz do raio,
Seu hino à natureza.
Pela alma lhe vagava
Um negro pensamento,
Da alcíone ao gemido,
Ao sibilar do vento.
Era blasfema ideia,
Que triunfava enfim;
Mas voz soou ignota,
Que lhe dizia assim:
«Cantor, esse queixume
Da núncia das procelas,
E as nuvens, que te roubam
Miríades de estrelas,
E o frémito dos euros,
E o estourar da vaga,
Na praia, que revolve,
Na rocha, onde se esmaga,
Onde espalhava a brisa
Sussurro harmonioso,
Enquanto do éter puro
Descia o Sol radioso,
Tipo da vida do homêm,
É do universo a vida:
Depois do afã repouso,
Depois da paz a lida.
Se ergueste a Deus um hino
Em dias de amargura;
Se te amostraste grato
Nos dias de ventura,
Seu nome não maldigas
Quando se turba o mar:
No Deus, que é pai, confia,
Do raio ao cintilar.
Ele o mandou: a causa
Disso o universo ignora,
E mudo está. O nume,
Como o universo, adora!»
Oh, sim, torva blasfémia
Não manchará seu canto!
Brama a procela embora;
Pese sobre ele o espanto;
Que de sua harpa os hinos
Derramará contente
Aos pés de Deus, qual óleo
Do nardo recendente.
Em que nos foge o dia,
E em que suscita a Lua
Das ondas a ardentia,
Se em alcantis marinhos,
Nas rochas assentado,
O trovador medita
Em sonhos enleado!
O mar azul se encrespa
Coa vespertina brisa,
E no casal da serra
A luz já se divisa.
E tudo em roda cala
Na praia sinuosa,
Salvo o som do remanso
Quebrando em furna algosa.
Ali folga o poeta
Nos desvarios seus,
E nessa paz que o cerca
Bendiz a mão de Deus.
Mas despregou seu grito
A alcíone gemente,
E nuvem pequenina
Ergueu-se no ocidente:
E sobe, e cresce, e imensa
Nos céus negra flutua,
E o vento das procelas
Já varre a fraga nua.
Turba-se o vasto oceano,
Com hórrido clamor;
Dos vagalhões nas ribas
Expira o vão furor,
E do poeta a fronte
Cobriu véu de tristeza;
Calou, à luz do raio,
Seu hino à natureza.
Pela alma lhe vagava
Um negro pensamento,
Da alcíone ao gemido,
Ao sibilar do vento.
Era blasfema ideia,
Que triunfava enfim;
Mas voz soou ignota,
Que lhe dizia assim:
«Cantor, esse queixume
Da núncia das procelas,
E as nuvens, que te roubam
Miríades de estrelas,
E o frémito dos euros,
E o estourar da vaga,
Na praia, que revolve,
Na rocha, onde se esmaga,
Onde espalhava a brisa
Sussurro harmonioso,
Enquanto do éter puro
Descia o Sol radioso,
Tipo da vida do homêm,
É do universo a vida:
Depois do afã repouso,
Depois da paz a lida.
Se ergueste a Deus um hino
Em dias de amargura;
Se te amostraste grato
Nos dias de ventura,
Seu nome não maldigas
Quando se turba o mar:
No Deus, que é pai, confia,
Do raio ao cintilar.
Ele o mandou: a causa
Disso o universo ignora,
E mudo está. O nume,
Como o universo, adora!»
Oh, sim, torva blasfémia
Não manchará seu canto!
Brama a procela embora;
Pese sobre ele o espanto;
Que de sua harpa os hinos
Derramará contente
Aos pés de Deus, qual óleo
Do nardo recendente.
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