segunda-feira, 9 de junho de 2014

Em virtude de uma pequena viagem para o Norte de Portugal para o casamento de um sobrinho, vou estar ausente do blog por uns dias.
Boa semana para todas e todos.

sábado, 7 de junho de 2014

Reponho uma poesia do poemário Sombras luminosas:

Relógio de água

O mar. Ao fundo o relógio
o tempo escorre 
como areia na água

António Eduardo Lico
Uma poesia do poeta equatoriano Edgar Allan García:


COSMOGONÍA ELEMENTAL

en el principio era el caos
entonces apareció ella y puso la ropa
en su lugar los zapatos en su lugar
la hermosura en su lugar y el corazón
del hombre en el lugar preciso
durante los restantes nueve períodos
construyó universos semejantes
a un cuarto de juegos para que en él
retozaran gritos balbuceos y risas infantiles
(vibraciones desconocidas hasta entonces
en aquel espacio desolado)
al amanecer del tiempo noveno
emergió él (primogénito conforme
a sus semejanzas) de las entrañas de ella
y en un principio fue el niño más dulce
la alegría más profunda el más educado
y sumiso y ordenado (o casi) pero pronto
anheló conocer mejor
palpar otros mundos
desafiar la gravedad y el poder
besar la redondez primigenia
de otros cuerpos
desde entonces vive de su sudor
en un barrio de seres extraviados
luminosos absurdos como el caos.

sexta-feira, 6 de junho de 2014

Reponho uma poesia do pormário Sombras luminosas:

Grito na sombra

Era um grito, ou era uma luz sonâmbula,
ou um gato que mia, porque os gatos miam.
Não sou o hermeneuta porque esperam
estou para além do nevoeiro

António Eduardo Lico
Uma poesia de Almeida Garrett:

Perfume da Rosa

Quem bebe, rosa, o perfume
Que de teu seio respira?
Um anjo, um silfo? ou que nume
Com esse aroma delira?

Qual é o deus que, namorado,
De seu trono te ajoelha,
E esse néctar encantado
Bebe oculto, humilde abelha?

- Ninguém? - Mentiste: essa frente
Em languidez inclinada,
Quem ta pôs assim pendente?
Dize, rosa namorada.

E a cor de púrpura viva
Como assim te desmaiou?
e essa palidez lasciva
Nas folhas quem ta pintou?

Os espinhos que tão duros
Tinhas na rama lustrosa,
Com que magos esconjuros
Tos desarmam, ó rosa?

E porquê, na hástea sentida
Tremes tanto ao pôr do sol?
Porque escutas tão rendida
O canto do rouxinol?

Que eu não ouvi um suspiro
Sussurrar-te na folhagem?
Nas águas desse retiro
Não espreitei a tua imagem?

Não a vi aflita, ansiada...
- Era de prazer ou dor? -
Mentiste, rosa, és amada,
E também tu amas, flor.

Mas ai! se não for um nume
O que em teu seio delira,
Há-de matá-lo o perfume
Que nesse aroma respira.

quinta-feira, 5 de junho de 2014

Reponho uma poesia do poemário Sombras luminosas:

Trece rosas

 Solo en el Verano las rosas son rosas
y en Agosto todas la rosas se vuelven rojas

Dime lo que contemplas
lunita del cementerio del Este?

Ay, yo solo puedo ver las rosas
las rosas que se van a morir

Ya se tocan seguidillas
ya lloran los pañuelos

En el cementerio del Este
hay trece rosas rojas

António Eduardo Lico
Uma poesia de Alexandre Herculano:

A Voz

É tão suave ess'hora,
Em que nos foge o dia,
E em que suscita a Lua
Das ondas a ardentia,

Se em alcantis marinhos,
Nas rochas assentado,
O trovador medita
Em sonhos enleado!

O mar azul se encrespa
Coa vespertina brisa,
E no casal da serra
A luz já se divisa.

E tudo em roda cala
Na praia sinuosa,
Salvo o som do remanso
Quebrando em furna algosa.

Ali folga o poeta
Nos desvarios seus,
E nessa paz que o cerca
Bendiz a mão de Deus.

Mas despregou seu grito
A alcíone gemente,
E nuvem pequenina
Ergueu-se no ocidente:

E sobe, e cresce, e imensa
Nos céus negra flutua,
E o vento das procelas
Já varre a fraga nua.

Turba-se o vasto oceano,
Com hórrido clamor;
Dos vagalhões nas ribas
Expira o vão furor,

E do poeta a fronte
Cobriu véu de tristeza;
Calou, à luz do raio,
Seu hino à natureza.

Pela alma lhe vagava
Um negro pensamento,
Da alcíone ao gemido,
Ao sibilar do vento.

Era blasfema ideia,
Que triunfava enfim;
Mas voz soou ignota,
Que lhe dizia assim:

«Cantor, esse queixume
Da núncia das procelas,
E as nuvens, que te roubam
Miríades de estrelas,

E o frémito dos euros,
E o estourar da vaga,
Na praia, que revolve,
Na rocha, onde se esmaga,

Onde espalhava a brisa
Sussurro harmonioso,
Enquanto do éter puro
Descia o Sol radioso,

Tipo da vida do homêm,
É do universo a vida:
Depois do afã repouso,
Depois da paz a lida.

Se ergueste a Deus um hino
Em dias de amargura;
Se te amostraste grato
Nos dias de ventura,

Seu nome não maldigas
Quando se turba o mar:
No Deus, que é pai, confia,
Do raio ao cintilar.

Ele o mandou: a causa
Disso o universo ignora,
E mudo está. O nume,
Como o universo, adora!»

Oh, sim, torva blasfémia
Não manchará seu canto!
Brama a procela embora;
Pese sobre ele o espanto;

Que de sua harpa os hinos
Derramará contente
Aos pés de Deus, qual óleo
Do nardo recendente.