O poeta de hoje é Herman Melville. (1819-18919)
Escritor, poeta e ensaísta norte-americano, após sucesso inicial, a sua carreira literária foi decaindo e faleceu praticamente esquecido.
Muitos dizem que Moby Dick, o livro que teve um enorme êxito no séc. XX, mas que não obteve êxito durante a vida dio autor, foi a causa do declínio da sua carreira literária.
Fica este poema, com tradução de Mário Avelar:
O ICEBERGUE(um sonho)
Vi um barco de porte marcial
(De flâmulas ao vento, engalanado)
Como por mera loucura dirigindo-se
Contra um impassível icebergue,
Sem o perturbar, embora o enfatuado barco se afundasse.
O impacto imensos cubos de gelo cair fez,
Soturnos, toneladas esmagando o convés;
Foi essa avalanche, apenas essa –
Nenhum outro movimento, o naufrágio apenas.
Ao longo das escarpas de pálidos cumes,
Nem um ínfimo, frágil raio de luz,
Um prisma sobre os solitários desfiladeiros de verde espelhados,
Vacilou; ou rendas de fino recorte,
Nem ínfimos pendentes em grutas ou minas
Se agitaram quando o perplexo barco se afundou.
Nem as solitárias nuvens de gaivotas, descrevendo
Círculos em torno de um distante cume coberto de neve;
Mas as aves mais próximas, as massas de gelo deslizando
E as praias de cristais, tão pouco se agitaram.
Tremor algum agitou a base
Do feixe de frágeis agulhas de gelo;
Torres escavadas pelas vagas – rochedos
Suspensos, instáveis – imóveis persistiram.
Gaivotas, dormitando lustrosas em escorregadios recifes
Não escorregaram quando, impelido em diante
Pela força da sua própria inércia,
O impetuoso barco, perplexo, se afundou.
Insensível icebergue (pensei), tão frio, tão vasto,
De mortais névoas envolto;
Exalando ainda tua respiração húmida e fria –
À deriva dissolvendo, suscitando a morte;
Embora desajeitado, pesado –
Um marinheiro desajeitado, indolente,
Pesaroso, contigo colide e afunda-se,
Sondando as profundezas do teu precipício,
Nem agita o viscoso verme que, indolente,
Percorre a funérea indiferença de tuas paredes.