sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Um poesia de António Franco Alexandre, um poeta já aqui apresentado:


CRISTAL DE AZUL, CHAMADO

Cristal de azul, chamado
pela canção das asas,
um novo dia pousa sobre as casas; tu,

coração, de pássaro fulgindo,
corpo do bem-amado
amor que abre na noite o arvoredo. em fogo,

oculto em luz, agora
quem dera ouvir a fábula, o enredo
a rede que nas horas se desprende.

em minha mão humana
não pousam, que passavam, os cantantes
nomes vivos das aves. erguer-me:

em claridade voas. terra
a nenhuma memória subjugada, chama
sulcando o ar, que fontes

de bruma incendiadas levantaram
a simples medida do teu canto?
neve

alada,
ouvir sem voz o vivo vento, corpo
de melro ou cotovia ou nome absolto

no espaço de ar, a vibração da cor;
ou santo colibri, volátil signo;
ou palavra de cego acorrentado;

que luz, em tuas folhas, te deu sombra
e harmoniosa, passageira concha?
que livre amor te inventa, derradeiro

sinal da noite ardendo em meiodia? ou tu,
eternamente repetindo o instante
em teu cinzel de azul nos desejaste?

nenhum secreto nome, nenhum mito
te habita rouxinol ou sapo aflito
mas o sopro da aurora nas colinas;

és, na ramagem, folha que contempla;
trapo de céu, ou rio que cegos vemos,
a transparência que o pudor vestiu.

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