sábado, 31 de maio de 2014

Reponho uma poesia do poemário Sombras luminosas:

Arena y piel

Las arenas crudas y calientes
queman tu piel clara.
y es solamente el sol, la arena
y tu piel, testigo de luz.

António Eduardo Lico
Uma poesia da poetisa argentina Iris Cadelago:

Quiero Ser

Quiero ser como aquel rayo
Que rasgó la noche en un instante
sin vacilar, siquiera.

Quiero ser el fuego, no la brasa.
quiero ser energía, no materia.
quiero ser la llama que consume,
el agua que penetra,
el aliento que respiras
y asimilar tu esencia...

Quiero ser la imagen en tus ojos,
y en tu mente cuando no me miras,
quiero ser un nombre entre tus labios
y un eco rebotando en las cornisas
de tu grito ancestral y dolorido
por beber el vino de este olvido,
antes de correr tras una estrella.

sexta-feira, 30 de maio de 2014

Reponho uma poesia do poemário Amanhecer obscuro:

Death wears in white and is young…

 We live as if Death couldn’t remember us,
with her golden bough and a magic smile.
We saw you so white and young,
as Turner painted you.
Death must be conveniently young
to be always dying

António Eduardo Lico
Uma poesia de António Franco Alexandre:

Nesta última tarde em que respiro

Nesta última tarde em que respiro
A justa luz que nasce das palavras
E no largo horizonte se dissipa
Quantos segredos únicos, precisos,
E que altiva promessa fica ardendo
Na ausência interminável do teu rosto.
Pois não posso dizer sequer que te amei nunca
Senão em cada gesto e pensamento
E dentro destes vagos vãos poemas;
E já todos me ensinam em linguagem simples
Que somos mera fábula, obscuramente
Inventada na rima de um qualquer
Cantor sem voz batendo no teclado;
Desta falta de tempo, sorte, e jeito,
Se faz noutro futuro o nosso encontro.

quinta-feira, 29 de maio de 2014

Reponho uma poesia do poemário Sombras luminosas:

Oráculo

 Precisava de ser o oráculo de mim mesmo
Assim como se tivesse um oráculo dentro de mim
não o de Delfos, hoje não me sinto classicista,
nem me apetece fazer alpinismo no Parnaso;
um oráculo ante-moderno, pelo menos
assim não tenho que dar explicações
pelo menos muitas; algumas terei que dar.
Posso sempre desculpar-me com os labirintos,
os oráculos têm labirintos a que só
os purificados podem aceder.
Se ao menos Pitia vivesse em mim!
Creio que vou acabar o dia a meditar
sobre o Bezerro de Ouro e vou
desistir de traçar o meu destino…oracular.

António Eduardo Lico
Uma poesia de Afonso Lopes Vieira:

Leve, Leve, o LuarLeve, leve, o luar de neve 
goteja em perlas leitosas, 
o luar de neve e tão leve 
que ameiga o seio das rosas. 

E as gotas finas da etérea 
chuva, caindo do ar, 
matam a sede sidéria 
das coisas que embebe o luar. 

A luz, oh sol, com que alagas, 
abre feridas, e a lua 
vem pôr no lume das chagas 
o beijo da pele nua.

quarta-feira, 28 de maio de 2014

Reponho uma poesia do poemário Sombras luminosas:

Gardening flowers that do not exist…

 If I was a gardening poet hermit,
even if I hadn’t a garden, just one.
A garden with a small pond and gardenias,
with gravity I would care
the flowers that do not exist

António Eduardo Lico
Uma poesia de Rainer Maria Rilke (tradução de Maria João Costa Pereira):

O Solitário

Como alguém que por mares desconhecidos viajou, 
assim sou eu entre os que nunca deixaram a sua pátria; 
os dias cheios estão sobre as suas mesas 
mas para mim a distância é puro sonho. 

Penetra profundamente no meu rosto um mundo, 
tão desabitado talvez como uma lua; 
mas eles não deixam um único pensamento só, 
e todas as suas palavras são habitadas. 

As coisas que de longe trouxe comigo 
parecem muito raras, comparadas com as suas —: 
na sua vasta pátria são feras, 
aqui sustém a respiração, por vergonha.

terça-feira, 27 de maio de 2014

Reponho uma poesia do poemário Amanhecer obscuro:

A tocadora de harpa

 Tocavas harpa com desoladas mãos
e plateias quentes aplaudiam
os gestos serenos dos teus dedos.

No final, agradecias
e arrumavas as mãos e os dedos.
Abandonada, a harpa jazia no palco.

António Eduardo Lico
Uma poesia de Jorge de Sena:

Deixai que a vida sobre vós repouse

Deixai que a vida sobre vós repouse 
qual como só de vós é consentida 
enquanto em vós o que não sois não ouse 

erguê-la ao nada a que regressa a vida. 
Que única seja, e uma vez mais aquela 
que nunca veio e nunca foi perdida. 

Deixai-a ser a que se não revela 
senão no ardor de não supor iguais 
seus olhos de pensá-la outra mais bela. 

Deixai-a ser a que não volta mais, 
a ansiosa, inadiável, insegura, 
a que se esquece dos sinais fatais, 

a que é do tempo a ideada formosura, 
a que se encontra se se não procura.

segunda-feira, 26 de maio de 2014

Reponho uma poesia do poemário Sombras luminosas:

Memórias no vento

 Do vento há memórias
que sibilam nas relvas
e ondulam a espuma das ondas
como se fizessem flores líquidas.

Do vento há memórias
que se esquecem, ruídos de verde
músicas nunca tocadas
e essa melancolia que se vai com a tarde.

António Eduardo Lico
Uma poesia do poeta chileno Omar Lara:

ELOGIO DE LA POESÍA

Como eres todo
 Y eres nada

Como no existes
 Y me vives

Como me pares
 Y me mueres

Como eres nube
 Y eres sima

Como me enciendes
 Y me apagas

Como me arrasas
 Y vacías

Como me nombras
 Y apalabras

domingo, 25 de maio de 2014

Reponho uma poesia do poemário Amanhecer obscuro:

A fogo, um pássaro...

Há um pássaro por dentro do fogo.
Prometeu, esse anjo caído é que sabia
que quem voa, não é o pássaro
mas a chama, esse fogo que tem as asas.

António Eduardo Lico
Uma poesia da poetisa cubana Odette Alonso Yodú:

Carnaval de invierno

La tumba se coló por la puerta trasera
por la hendija bien tapiada
por el postigo azul
y tú que por siglos odiaste el carnaval
tú que gritaste solavaya fuera fuera
estás marcando el paso en la comparsa
tu orgullo diluido en la carne del tambor
en el fragor de la corneta china.
Arrollando van los negros
y los blancos
y tú.
No hay disfraz ni careta en esa ola
fuera fuera solavaya gritan todos
y alzan las manos
rehiletes que ya nada detendrá.
Tú que por siglos odiaste el carnaval
olvidas la decencia y las santas prohibiciones
olvidas a tus hijos y a tu mujer adusta
juramentos vacíos
máscara infértil de la fertilidad.
Tú sin resuello golpeas el tambor
gozando la cintura de la negra
y de la blanca
descoyuntando la cintura tú
bajo el tremor de la corneta china.

sábado, 24 de maio de 2014

Uma poesia do poemário Sombras luminosas:

Insólito divino

 Das minhas mãos nascem rosas
dos olhos luas feridas.

Ai velho Zeus, de tão carcomido
já não te nascem deusas das divinas coxas.
Reinam centopeias de enxofre nos
meandros dos teus intestinos.

Mãos e rosas, olhos e luas
já não fazem deuses.

Insólitas divindades
e ainda mais insólitos
profetas e teólogos

já gastaram todas
as rosas e luas.

António Eduardo Lico
Uma poesia da poetisa cubana Maria Eugenia Caseiro:


Aquí lloviendo.

Estoy aquí, aquí lloviendo
acumulada de cajas de cartón
con dibujos y letreros,
jorobándome la poesía por dentro
con el techo de zinc en la cabeza
con la lengua enredada
y la canción fuera de tono,
con mis alas de papel
pegándose a esta lluvia...
y me dan en la nariz hechos un trapo
mis ancestros, que ahora son ángeles
con ojos empedrados por la catarata
condenados a la pena de estos bolsillos rotos.
Estoy aquí, aquí lloviendo
con el luto perpetuo por las cosas perdidas;
mis palomas, mis abejas, y mis playas...
abrazándome al fantasma de la lluvia
gris humante en el cojín acuchillado.
A mi espalda un maniquí con la cara tapada
hubiera evitado el llanto del borracho que me vio
hubiera evitado
que la mujer que peina la calle por las noches
buscando sobre los contenes la húmeda pisada
lanzara una moneda a la fuente donde lluevo,
pero soy monólogo de lluvia
y estoy aquí, aquí lloviendo.

sexta-feira, 23 de maio de 2014

Reponho uma poesia do poemário Sombras luminosas:

O equador do teu sorriso

 O teu sorriso cortado por um equador
imaginário como todos os equadores.
A norte um perfume que voa com os pássaros
a sul esse labirinto feito cristal

António Eduardo Lico
Uma poesia da poetisa nicaraguense Esthela Calderón:

ASENTAMIENTOS Y LLUVIA.

En la comunión plena del agua con la tierra
una a una las hostias hechas gotas van poblando
la encarnación incesante de todas las desgracias.

La lluvia es el cataclismo de los asentamientos
es alabanza liquida del pan
que no ha de llegar a la boca,
es el sacrificio milenario
para gloria de los omnipotentes,
es la matanza entre periodistas
por inmortalizar en rojo-vino la noticia.

Cada vez que llueve
fielmente los de arriba
hacen una nueva alianza.

quinta-feira, 22 de maio de 2014

Reponho uma poesia do poemário Sombras  luminosas:

Salamina

 Ai Salamina, como Xerxes te chorou
perdido o seu ocidental sonho.
Queria apenas Salamina por Salamina
Ai Salamina onde navegam os teus barcos?
Ou é o azul das tuas águas que está em ruínas?

António Eduardo Lico
Uma poesia da poetisa salvadorenha Claudia Lars:

Poeta soy

                                                                                       Para María y Mariano Coronado

Dolor del mundo entero que en mi dolor estalla,
Hambre y sed de justicia que se vuelven locura;
Ansia de un bien mayor que el esfuerzo apresura,
Voluntad que me obliga a ganar la batalla.

Sueño de toda mente que mi mente avasalla,
Miel de amor que en el pecho es río de dulzura;
Verso de toda lengua que mi verso murmura,
Miseria de la vida que mi vergüenza calla.

Poeta soy… y vengo, por Dios mismo escogida,
A soltar en el viento mi canto de belleza,
A vivir con más alto sentido de nobleza,

A buscar en la sombra la verdad escondida.
¡Y las fuerzas eternas que rigen el destino
Han de volverme polvo si equivoco el camino!

quarta-feira, 21 de maio de 2014

Reponho uma poesia do poemário Sombras luminosas:

Tria Fata

 Como as três Parcas fiam o Destino
a última palavra corta o fio
e emudece como Parsifal.
Muito mais tarde, e das ruínas
pode voltar como poesia.

António Eduardo Lico
Uma poesia de Anais Nin:

Risk

And then the day came,
when the risk
to remain tight
in a bud
was more painful
than the risk
it took to Blossom.

terça-feira, 20 de maio de 2014

Reponho uma poesia do poemário Sombras luminosas:

Deusa esquecida

De tão última que eras
nem chegaste a ser criada
e no entanto nasciam-te peixes dos pés
quando deixavas os rios.
E eras deusa porque não foste criada
e eras deusa porque te nasciam peixes dos pés.

António Eduardo Lico
Uma poesia de John Keats:

Bright Star

Bright star, would I were stedfast as thou art--
Not in lone splendour hung aloft the night
And watching, with eternal lids apart,
Like nature's patient, sleepless Eremite,
The moving waters at their priestlike task
Of pure ablution round earth's human shores,
Or gazing on the new soft-fallen mask
Of snow upon the mountains and the moors--
No--yet still stedfast, still unchangeable,
Pillow'd upon my fair love's ripening breast,
To feel for ever its soft fall and swell,
Awake for ever in a sweet unrest,
Still, still to hear her tender-taken breath,
And so live ever--or else swoon to death.

segunda-feira, 19 de maio de 2014

Reponho uma poesia do poemário Sombras luminosas:

Diana, ou a lua como reflexo...

Tenso o arco, Diana e a absurda flecha
que fere o silêncio e a luz
De tudo o que és
apenas fica a lua negra
e essa poesia que te enfeita os cabelos.

António Eduardo Lico
Uma poesia de António Gedeão:

Poema da Auto-estrada

Voando vai para a praia
Leonor na estrada preta.
Vai na brasa, de lambreta.

Leva calções de pirata,
vermelho de alizarina,
modelando a coxa fina,
de impaciente nervura.
como guache lustroso,
amarelo de idantreno,
blusinha de terileno
desfraldada na cintura.

Fuge, fuge, Leonoreta:
Vai na brasa, de lambreta.

Agarrada ao companheiro
na volúpia da escapada
pincha no banco traseiro
em cada volta da estrada.
Grita de medo fingido,
que o receio não é com ela,
mas por amor e cautela
abraça-o pela cintura.
Vai ditosa e bem segura.

Com um rasgão na paisagem
corta a lambreta afiada,
engole as bermas da estrada
e a rumorosa folhagem.
Urrando, estremece a terra,
bramir de rinoceronte,
enfia pelo horizonte
como um punhal que se enterra.
Tudo foge à sua volta,
o céu, as nuvens, as casas,
e com os bramidos que solta,
lembra um demónio com asas.

Na confusão dos sentidos
já nem percebe Leonor
se o que lhe chega aos ouvidos
são ecos de amor perdidos
se os rugidos do motor.

Fuge, fuge, Leonoreta
Vai na brasa, de lambreta.

domingo, 18 de maio de 2014

Reponho uma poesia do poemário Sombras luminosas:

Há quem tenha mantras para dizer...

Dizias mantras, não muitos, mas dizias alguns.
Felizes os que dizem pelo menos alguns mantras
têm muitos mais para dizer, saibam-nos ou não.
Os que não têm mantras para dizer,
não têm mantras para dizer, nem sabem
os mantras que ainda poderiam dizer.
Se eu fosse um filósofo grego
ia mesmo agora para a pólis discursar:
os que dizem mantras, dizem mantras;
os que não dizem mantras, não dizem mantras!
Seria assim o meu discurso.

António Eduardo Lico
Uma poesia de Alfonso Sastre:

Soneto a la yaya
Querida yaya, como el buen Cervantes
en prisiones oscuras nos hallamos.
Lo que importa está libre: nos amamos
su hija y yo, señora, más que antes.

Mas no es sólo el fervor de ser amantes
la alegría actual, sino el empeño
de dedicar a la verdad de un sueño
nuestras vidas contantes y sonantes.
Miedo al exterior, oh prisión mía,
oigo risas que llegan a mis huesos:
hay quien se piensa libre todavía.
Pero a pesar de todos los procesos
la noche es enemiga, nuestro el día:
nosotros somos libres y ellos presos.

sábado, 17 de maio de 2014

Reponho uma poesia do poemário Sombras luminosas:

Regressando aos pastores...

Os pastores são personagens convenientes
para os poetas e para a poesia.
Os pastores dos poetas
são pastores inventados,
sem rebanhos e sem flauta,
por isso são pastores de poesia.

António Eduardo Lico
Uma poesia da poetisa salvadorenha Lorena Estrada:

Posmodernidad

Desmayada voy gastándome en la noche.
Mi cuerpo es una cera ardiendo
 en los sueños de los hermanos de mis amigas.
No tengo otro horizonte más que mi nombre
 deletreado en el frío.

Pero así es el mundo atrás de los relojes,
Un cadáver abandono que gira
 en alguna parte,
una campana ciega entre las espinas.

Yo solo tengo mi nombre deletreado en el frío.
 Como presentimiento de una rosa marchita entre los labios.

Y abro los ojos y se hace la penumbra
Alguien no sabe como cantar mi nombre
 [y dolerse entre las rocas al mismo tiempo.

Pero así es el mundo, en mi cama y en mi cuerpo
Un poema que arde en la llama del bullicio.

sexta-feira, 16 de maio de 2014

Reponho uma poesia do poemário Sombras luminosas:

Escrito para um secreto habitante dos Montes Hermínios

 Secreto e alado voavas nesses montes,
Hermínios pelo teu secreto nome.
Era o teu secreto Olimpo,
o mais verdadeiro.
Ainda hoje os teus divinos parceiros
pensam que moram no Olimpo.

António Eduardo Lico
Uma poesia da poetisa salvadorenha Ligia Molina:

Caverna

           Bebimos madrugada
habían imágenes abstractas
leyendas de antaño
          herencias perdidas
naturaleza sin rostro
rizos que se burlaban de su sombra.

            Volaban mosquitos tímidos
piojos muertos de hambre
y sonrisas
          cor ta das
                    en trocitos...

quinta-feira, 15 de maio de 2014

Reponho uma poesia do poemário Sombras luminosas:

Observando as Plêiades... e meditando vagamente numa antiga donzela que por amor a um marinheiro foi transformada em ave aquática...

Fulgente no Sete Estrelo
Alcion, líquida estrela
ou imperfeito pássaro luminoso
feito luz pura na água
como um risco sideral
que te fez luz eterna.

António Eduardo Lico
Uma poesia da poetisa argentina Maria Julieta Salusso:

El final

 La delgada membrana del silencio
se vio duramente traspasada
por los gritos mudos
que disimuladamente afloraban
desde el fondo de gargantas resecas.
Las filosas palabras silentes
dejaban oír su eco
rebotando sin cesar
contra las murallas del tiempo.
Y yo estaba ahí,
tratando de armar la mil piezas
del rompecabezas de mi vida, pues
creí escuchar la voz que me llamaba
a rendir cuentas
de mi transitar por esta vida.

quarta-feira, 14 de maio de 2014

Reponho uma poesia do poemário Sombras luminosas:

Há muito tempo...

Há muito tempo, iniciei uma poesia
que começava assim:
“As largas Avenidas do Outono...”.
Hoje, sempre há um hoje,
sinto que deveria ter começado assim:
“As largas Avenidas, no Outono”...
Porque é que hoje eu sei
que o Outono não tem Avenidas?
Nem sequer vielas, ou estátuas.
Se hoje fosse ontem
começaria o poema assim:
“As largas Avenidas do Outono...”

António Eduardo Lico
Uma poesia do poeta salvadorenho Juan Ernesto Cadenas:

Niño pobre

Bajó del cerro lleno de ilusiones
cruzó vereda atajos y camino
sin protestar acepta su destino
murmura sus canciones.
Y desde que era él solo un chiquillo
a fuerza el sol le tiene la piel curtida
labra la tierra, ganando la vida
sonríe cual inquieto pajarillo.
Exquisito sabor carga en su espalda
cacastle lleno, exótica dulzura,
el cielo llena de ilusión madura
y perfuma el paisaje esmeralda.
Ofrece la delicia
con su tímida voz entre la gente
que por su lado pasa indiferente,
Que dolor que injusticia.
que nadie quiera su fruta comprar
El niño pobre vino de la sierra
comparte su miseria con la tierra
sus ilusiones rotas al regresar.

terça-feira, 13 de maio de 2014

Reponho uma poesia do poemário Amanhecer obscuro:

Assim falou Zaratustra     

Quando Al Capone procurava
centopeias na Ursa Maior
e sonhava com Obama
a fazer penteados afro na Cassiopeia,
ainda havia filósofos franceses
peritos em silogismos,
e capazes de discursar:
Oh verdes lagartos, tão jurássicos!
como podeis viver
em pleno pós-modernismo?
Se ao menos fossem motards
ao jeito de Hollande!
Mas a nós, a nós meus amigos
quem nos salva da velocidade
fenomenológica de Hollande?
Ai das libélulas tristes
que escutam velhos sábios e santos;
nunca voarão para a luz!
Ai das belas flores ornadas de perfumes
serão para todos e para ninguém!
Do monte surge o sol, dourando
os precipícios de chumbo.
Indiferente, Zaratustra medita.

António Eduardo Lico
Uma poesia de Herberto Hélder:

Como uma rosa no fundo da cabeça

Como uma rosa no fundo da cabeça,que maneira obscura
de morte.O perfume a sangue à volta da camisa
fria,a boca cheia de ar,a memória
ecoando como as vozes
de agora.Onde está sentada brilha de tantas
moléculas
vivas,tanto hidrogénio,tanta seda escorregadia dos ombros
para baixo.Toca eu
de onde rompe a rosa.uma criança
luciferina.A mãe fechava,
abria em torno a torrente dos átomos
sobre a cara.Aquilo que a estrangula dos pulmões
à garganta
é a rosa infundida.Leva um braço às costas,
suando,raiando
pelo sono fora.Está queimada onde lhe toca.Falaria alto
se o peso a enterrasse à altura das vozes.
Via a matéria radiosa de que é feito o mundo.
A língua doce de leite,
a mão direita na massa agre,o sexo banhado
no manancial secreto.
O dom que transtorna a criança ardente é leve como
a respiração,leve como
a agonia.
Uma rosa no fundo da cabeça.

segunda-feira, 12 de maio de 2014

Reponho uma poesia do poemário Sombras luminosas:

Lamento para os deuses desaparecidos

 No tempo em que os deuses eram feitos de nada
e os homens eram feitos de tudo
os deuses eram felizes, e eram livres.
E eram muitos, nasciam do nada, e eram tudo.
Agora que desapareceram, devem estar nostálgicos
de divina nostalgia.

Não sei se os deuses, mesmo os desaparecidos,
sentem nostalgia; afinal já não existem.
Mais certo é os deuses que ainda existem
sofrerem de nostalgia, ainda que ferindo
os seus divinos atributos e potestades.

Não, não venho armado de intenções teológicas
ou sequer de nostalgia.
Os deuses antigos eram mais deuses
porque já não existem.

António Eduardo Lico
Uma poesia de Paul Éluard:

La terre est bleue

La terre est bleue comme une orange
Jamais une erreur les mots ne mentent pas
Ils ne vous donnent plus à chanter
Au tour des baisers de s'entendre
Les fous et les amours
Elle sa bouche d'alliance
Tous les secrets tous les sourires
Et quels vêtements d'indulgence
À la croire toute nue.

Les guêpes fleurissent vert
L'aube se passe autour du cou
Un collier de fenêtres
Des ailes couvrent les feuilles
Tu as toutes les joies solaires
Tout le soleil sur la terre
Sur les chemins de ta beauté.

Oeil de sourd
Faites mon portait.
Il se modifiera pour remplir tous les vides.
Faites mon portrait sans bruit, seul le silence,
A moins que - s'il - sauf - excepté -
Je ne vous entends pas.

Il s'agit, il ne s'agit plus.
Je voudrais ressembler -
Fâcheuse coïncidence, entre autres grandes affaires.
Sans fatigue, têtes nouées
Aux mains de mon activité.

domingo, 11 de maio de 2014

Reponho uma poesia do poemário Sombras luminosas:


Bucólica

 Nas Éclogas falamos de pastores.
Nas poesias que não são Éclogas
não falamos de pastores.
Os pastores das Éclogas são breves;
tão fugazes como uma poesia que se escreve
e se torna inútil, porque já foi escrita.
Lá fora a chuva cai oblíqua às horas
e transforma o silêncio em música líquida.
Numa qualquer personagem de mim mesmo,
passam na memória vagos pastores.
Afasto as horas e os relógios
e sou apenas este instante.

Antonio Eduardo Lico
Uma poesia do poeta cubano Karel Leyva:

El mar es la distancia entre dos puertos
inquieta zubia orlada de veleros
que surcan nuevamente los senderos
en busca de su presa cual podencos

Atados a famélicos maderos
los náufragos oscilan hacen ciertos
los rostros marginados del ajenjo
la pálida caricia del estero

Parados frente al mar vemos al dedo
tornarse un ilusorio parlamento
al barco en la ciudad a los silencios
en el común hojearse ante el espejo
Somos los argonautas solo eso
pendientes de la gloria y el regreso

sábado, 10 de maio de 2014

Reponho uma poesia do poemário Sombras luminosas:

Prometeu

 Oh insigne Prometeu, da raça de deuses antigos destronados
que sendo deus, não tinha o fogo, apenas o Princípio.
Zeus deu-te um tangível fígado, Homero deu-te qualidades.
Zeus, depressa esgotou a imaginação,
deuses de segunda geração, são assim!
Enviar-te uma águia para te devorar o fígado
e depois espalhar a tua divindade pelo Peleponeso.
Queria-te eternamente póstumo, matando-te todos os dias,
que são assim os deuses de segunda geração;
Héracles te libertou; divino como eras
regressaste ao Princípio.

António Eduardo Lico
Uma poesia de Hélia Correia:

POEMA

Ouço o incêndio, as fábricas. O berço
do suor interrupto. Ouço às vezes quem se ama
onde o amor não há – apenas morre
no clandestino abrir.
Ouço às vezes quem rompe os mapas cerce
e então na noite recupera as loucas
emigrações da história. Ouço crescendo
secamente os filhos no rancor e na linfa.
Astuciosamente recolhendo as vastidões adversas.
Ouço em momentos fartos o entulho,
desdobrada a raiz, fundar o mês da heresia,
a sábia recriação do sumo.
Ouço o arado. A luz. Profundamente
os barcos segregados na propensão do mar.
Ainda quem a medo desagregue
a centenária paz:
- os homens,
onde os ouço, aqui recordo
as origens compradas do terror.
Os homens, onde os ouço, aqui confirmo
suas mãos.

sexta-feira, 9 de maio de 2014

Reponho uma poesia do poemário Sombras luminosas:

Da morte o mistério...

Oh morte! Que habitas duas vezes
O corpo sombrio de Hermes.
Regressa e vive uma vez!

António Eduardo Lico
Uma poesia de Eugénio de Andrade:

No brilho redondo

No brilho redondo
e jovem dos joelhos.

Na noite inclinada
de melancolia.

Procura.

Procura a maravilha.

quinta-feira, 8 de maio de 2014

Reponho uma poesia do poemário Sombras luminosas:

Esfinge

 Esfinge que dormes na areia,
és nua na pedra em que estás prisioneira.
Esfinge que fitas para dentro de ti,
que palavras não dizes?
Que silêncio pinta os teus lábios
de deusa de pedra?
Que todos procuram
as palavras que não dizes.

António Eduardo Lico
Uma poesia do poeta cubano Isbel Diaz Torres:


TOCAR

Yo que nunca aprendí a tocar guitarra,
y tenía las uñas largas, de gran concertista,
de trasvesti en resaca tremolante,
uñas largas para el Aria de Bach
sonando como un nintendo desafinado,
como una mezzo en su última presentación,
Yo, que nunca aprendí a tocar guitarra,
y hacía vibratos con el tubo del ómnibus,
como si la guitarra fuera en realidad un cello,
un clítoris que lograba potenciales de accción bajo mis yemas,
el timbre de la puerta que suena en el espamo imprevisto.

Yo nunca aprendí.

Yo cargaba con mi instrumento
como quien tiende una playa ante los otros,
y los invita a sentarse, a tomarse un jugo de mango,
los invita
a escuchar a Mozart, o Haydn, o teleman...
pero no había música más que en mi impúber mosquitero,
en las gasas por donde me escapaba.

Caminaba por 250, doblaba en 27, y
el tema entraba en las cuerdas graves,
como al final de Aranjuez (segundo movimiento, el que se sabe la gente...)
el tema entraba, bien marcado, bien lento,
y yo me preguntaba si serían blancas,
o un ritardando,
o una metástasis que ahoga al guitarrista que nunca seré.

Yo, que nunca aprendí,
miraba la música como quien mira un animal triste,
de ojos redondos,
un animal sin barcos, sin alfiles listos, sin luz;
y por entre sus toldos veía un vapor, su ascenso lunático
que me perdonaba la envidia,
me perdonaba mi ausencia de los tálamos fundadores,
mi ausencia de la audacia y las escalas cromáticas,
de Darius Milhaud, y Mozart, y de mi propio jugo de mango...
mi ausencia de la esquina de Aranjuez y de los premios,
yo, que nunca logré afinar la prima,
que nunca aprendí a tocar guitarra.

quarta-feira, 7 de maio de 2014

Reponho uma poesia do poemário Sombras luminosas:

A Imagem da palavra

 Como pássaro que parte quando
os frios chegam, e o Inverno acorda
do solsticial e longínquo sono,
a imagem da palavra, esse logos
sem geografia e sem gramática
ilumina a sua própria luz.

António Eduardo Lico
Uma poesia do poeta espanhol Martín Lucia:

Se llamará

Se llamaba Manuela.
O Jimena. O Leonor.
Como ella quisiera,
pues era cada palabra
y, a la vez, cada letra.
Hubo días que la llamé caricia.
Otros, susurro.
De noche la llamé vida.
De día, a veces, ni la nombré.
Pero vino. Siempre vino.
También la he llamado silencio.
Recuerdo cuando la llamé dormida.
Recuerdo...
La llamé días que quedan.
Hoy la llamo melancolía.

terça-feira, 6 de maio de 2014

Reponho uma poesia do poemário Amanhecer obscuro:

Bem Aventuranças

Bem aventurados os bancos
que ficam com o nosso dinheiro
e nós ficamos com as dívidas.
Bem aventurada Merkel
que dela será o reino de Bismarck.
Bem aventurado Cameron
que dele será o reino das
couves de Bruxelas.
Bem aventurado Obama
que dele serão mais de um milhão
de mortos das suas guerras imperiais.
Bem aventurado Hollande
com os seus homosexuais na Nôtre Dame
e bombas no Mali..
Bem aventurada Nato
que dela serão os anjos metálicos
por sobre o céu da Líbia.
Bem aventurados todos os
bem aventurados e os
não bem aventurados
que esperam nuvens plácidas
e açucenas de carvão
nos cabelos das mulheres.
Os robots voadores de Obama
são bem aventurados
porque matam sem saber
e fazem excrecências nos céus
logo abaixo dos deuses
como se tangessem
as liras da Roma Imperial.
Bem aventuradas as televisões
do Império e os jornais
do Império e as rádios
do Império e os blogs do Império
que deles é o reino da mentira.
Os economistas do Império
são bem aventurados
porque transformam a miséria
do mundo em dinheiro
no bolso dos seus amos.
Bem aventurados os que
morrem de fome que deles
não se farão epitáfios
e os seus ventres inchados
voarão como balões loucos
nas festas de caridade.
Mal aventurado o poeta
que ergue lírios como
se fossem sinos a tocar a rebate
que dele só serão as noites futuras.
Bem aventuradas as bem aventuranças
que delas só serão a argila
ou o pó que dela ficar.

António Eduardo Lico
Uma poesia da poetisa mexicana Karina Falcón:

Es el vaho de sentirme pequeña, de
No encontrar pertenencia o aforo en
El Olimpo; no mío el Edén y en mí
Perdido. Por el Anhelo:
Por la audacia de la serpiente.

Es la gracia de verme imperceptible,
Sentir las pequeñas implosiones y mis
Diminutas extremidades. Los delgados
Dedos; los pies justos; la boca breve y
Toda yo reducida.

Es el tumulto de sentirme a medida; en
Medida: así desorbitada. Minúscula
Espalda que se agrieta, que perfora
En la piel hoyuelos para que el perfume
Absorba esplendor y lo reconcilie
Exiguo; lo evapore en minúsculo.

Yo serpiente en reducción minúscula.

segunda-feira, 5 de maio de 2014

Reponho uma poesia do poemário Amanhecer obscuro:

Um Abril de Abril

 Em Abril, flores mil
Para explodirem
Com o orvalho das madrugadas
E pintarem a tristeza
Das cores que só as flores têm.
Georges, sabes, no meu país
Há tardes de Abril
Que parecem Agosto
E em Lisboa o Tejo
Esse eterno filho de Abril
Casa o seu azul baço
Com o fulgurante azul de céu
E ao longe formam
Uma só linha azul que marca Abril.
Georges, sabes, no meu país
Há flores que nascem antes do seu tempo
Como se quisessem
Vestir Abril de perfumes
E febril alegria
E as moças morenas
Cantam os hinos secretos
De todos os perfumes de Abril.
Sabes, Georges, no meu país
Abril só começa de madrugada
Como se quisesse nascer
do orvalho e tecido pelo
perfume das flores que no meu país
nascem antes do tempo.
Sabes Georges, no meu país
Abril só pode ser Abril.

António Eduardo Lico
Uma poesia da poetisa salvadorenha Beatriz Henríquez:

Un preservativo tan inmenso donde caben
Mis hijos acumulados
Un aceite sexual que revela mis orígenes
En la cabecera.

No sé de playas, banderas, filantropías,
Pero si de piedras secretas ocultas bajo la mano
Ni de republicanos, verbos o mecánica
Solo del hombre con sus temibles manos de piedra.

domingo, 4 de maio de 2014

Reponho uma poesia do poemário Amanhecer obscuro:

PPC, ou a balada de todos os bancários a que muitos chamam políticos

PPC, seja, Pedro Passos Coelho
não usa chapéu de feltro
nem conhece a estética do canto dos
canários e não distingue
um checo de um eslovaco.
Usa um pequeno rectângulo
na lapela: via-se numa foto de jornal.
Olhando com atenção, lá está:
é a bandeira de Portugal.
De uma só vez e num gesto
a la Georges Bush, PPC pendura o País.
PPC não sabe onde fica
o Forte de S.João Baptista de Ajudá
e pensa que Porto Seguro fica
onde fica o dito Partido Socialista.
PPC é bancário; bancário de um só sentido:
só recebe, e quer receber mais, e não pagar.
PPC aderiu a uma moda antiga:
políticos são todos bancários.
Trabalham para os banqueiros,
nem que tenham que usar na lapela,
bandeiras e fingirem que são inteligentes, diligentes
e piedosos. Não desisto de ver PPC
fazer versos ao padre Américo
e fazer lobbying pela santidade de Cavaco Silva,
também ele um devotado bancário.
PPC é contabilisticamente ininputável
e faz balancetes com talões do BPN nas horas de ócio.
PPC, oficia o seu múnus como um Cardeal clandestino
saído, não de refinados salões florentinos,
ordenado como foi na jsd, e com o secreto
sonho de ser canonizado pela troika
e venerado para todo o sempre
nos santuários que vão de Bruxelas a Berlim e a Washington.

António Eduardo Lico
Uma poeisa da poetisa mexicana Marcela Sois-Quiroga:

Poema de una isla imaginaria

Si existieran las sirenas
el mar no sería
ni dulce ni salado,
el aire cantaría rumbas,
bruma de rocío,
agua de lluvia
sobre las piedras.

Si existieran las sirenas
sus cabellos danzarían
en mis ojos,
acariciarían las ostras
que besan corales negros.

Si sus cabellos fueran
rizados o negros,
rubios o rojos,
les pediría su brillo
para iluminar la calva
de mi olvido.

Si su pecho fuera cálido
tendría perlas,
sólo perlas,
dulzuras de coco
en la espuma.

Si existieran las sirenas
su aroma secaría mis lamentos,
los años empolvados
de la lumbre en viento.

Si mis años fueran agua
la inmortalidad de su viaje
aseguraría que mis escamas
no sintieran el frío
de las olas congeladas.

Mas… ni el tiempo
ni mis sueños son agua,
tan sólo son el viento
de una marea,
sirena de tierra,
humedad entre ramas.

sábado, 3 de maio de 2014





Do blog Princesa poliédrica recebi este prémio. O que muito agradeço.
Seguindo as normas, respondo à pergunta formulada é que é:

Que es lo que te enamoró de la persona que quieres?

Resposta - Olhos e perfume.













































Reponho uma poesia do poemário Amanhecer obscuro:

Reflexão útil num dia de chuva

Eu gosto de tudo o que faço.
O que não faço, não
é aquilo que faço.
Pura Tautolgia! Dir-me-ão:
antes tautólogo
que tarólogo.
Podia ter dito tautologista;
podia ter dito tarologista.
Apenas não quis ficar sem o logos.
Não sou esteta, nem mesmo
obstetra.Poderá haver quem me pense um tetraedo:
não sou e da Geometria
apenas me interessa
a primeira letra.
A chuva cai, líquida
como convém a toda a chuva
e depois pára, sem reflectir.

António Eduardo Lico
Uma poesia da poetisa mexicana Ana Kupfer Asse:

El reflejo de la letra
                                      A mi mamá


Frente a frente se halló el poeta
 reflejado en su pergamino.
Anunció su vacío,
encontró pura nostalgia.
Gritó, pero nadie lo escuchó.
El escritor se encerró en su poema,
llegó a su memoria todo lo que le faltaba
y miró hacia atrás,
derramando versos
en una gaviota.

sexta-feira, 2 de maio de 2014

Reponho uma poesia do poemário Amanhecer obscuro:

Pior que roubar um banco é fundar um banco

Bertold Brecht

Poema concreto


Escrevo poemas que quisera
efémeros, como o vento
que beija as flores
e levanta ondas ao mar
para logo se desfazem na areia da praia,
como se o mar todo se acabasse naquele momento.

O vento quando beija as flores
não é como um cheque, ou uma letra:
quando se acabam, os bancos emitem mais.
Mesmo que se lhes acabe o dinheiro,
emitem mais. Porque eu não posso
emitir o meu dinheiro quando se me acaba?
Quando se me acabam as flores, procuro por mais.
O vento quando beija as flores, beija-as
como se nunca acabasse, e se acabasse
o saldo não seria negativo.

Até o Olimpo e os belos deuses gregos
se acabaram; ninguém se importou
em emitir mais; depois vieram profetas
que emitiram deuses e paraísos diferentes

Os bancos e os banqueiros
emitem dinheiro como se
emitissem paraísos e divindades.
Houvera quem os roubasse
como o vento rouba das flores
os perfumes.

António Eduardo Lico

Uma poesia da poetisa salvadorenha Corina Bruni:

Ya la Luna está cansada
de oír que la llamen “pálida”
los bardos, en sus poemas.
Por eso esta noche cálida
se ha asomado sonrosada
por el humo de las “quemas”.

Y, sin pena ni dolor,
el Sol se fumó los montes,
y alistó su bastidor
para bordar horizontes.

quinta-feira, 1 de maio de 2014

Reponho uma poesia do poemário Amanhecer obscuro:

A cal que não fosse ávida de água...

Nunca escrevi versos em que usasse a palavra cal.
Eu sei que nunca tive razões para o fazer,
mas nunca fiz, e assim o digo.
Reconheço que já usei a palavra óxido,
não muitas vezes, mas usei, noblesse oblige.
Usei, já o disse, não para oxidar o poema,
ou provocar outras reacções,
não que eu seja dado ao estudo da química
mas dizem-me que pode haver reacções...
A cal, ao que dizem, é ávida de água
E eu só quero a cal que não é ávida
de água, seja água, água, ou oxigenada;
não digam que estou a usar óxido
neste fazer o poema.
Não sou futurista, nem me corre
nas veias o mais leve ânimo post-moderno,
por isso usei óxido com moderação
e ainda espero a cal que não seja ávida de água.

António Eduardo Lico
Uma poesia de José Afonso:

Maio Maduro maio
Maio maduro Maio, quem te pintou
Quem te quebrou o encanto, nunca te amou

Raiava o sol já no Sul, Ti ri tu ri tu ri tu ru Ti ri tu ru tu ru
E uma falua vinha lá de Istambul

Sempre depois da sesta chamando as flores
Era o dia da festa Maio de amores
Era o dia de cantar, Ti ri tu ri tu ri tu ru Ti ri tu ru tu ru
E uma falua andava ao longe a varar

Maio com meu amigo quem dera já
Sempre no mês do trigo se cantará
Qu'importa a fúria do mar, Ti ri tu ri tu ri tu ru Ti ri tu ru tu ru
Que a voz não te esmoreça vamos lutar

Numa rua comprida El-rei pastor
Vende o soro da vida que mata a dor
Anda ver, Maio nasceu, Ti ri tu ri tu ri tu ru Ti ri tu ru tu ru
Que a voz não te esmoreça a turba rompeu