O poeta de hoje é Joaquin Namorado.
Nascido em 1914 e falecido em 1986, Joaquim Namorado de formação matemática, foi proíbido de ensinar no ensino oficial pelo Estado Novo, dedicou-se ao ensino particular. Depois do 25 de Abril de 1974 ingressou nos quadros de professores de Matemática da Faculdade de Ciências e Tecnlogia da Universidade de Coimbra.
Como poeta, Joaquin Namorado vai da estética neo-realista até afloramentos surrealistas. Conta-se até que foi Joaquim Namorado que cunhou a designação "neo-realista" para ludibriar a polícia política do Estado Novo, evitando usar a designação "realismo socialista".
Fica esta poesia:
Port Wine
O Douro é um rio de vinho
que tem a foz em Liverpool e em Londres
e em Nova -York e no Rio e em Buenos Aires:
quando chega ao mar vai nos navios,
cria seus lodos em garrafeiras velhas,
desemboca nos clubes e nos bars.
O Douro é um rio de barcos
onde remam os barqueiros suas desgraças
primeiro se afundam em terra suas vidas
que no rio se afundam as barcaças.
Nas sobremesas finas, as garrafas
assemelham cristais cheios de rubis,
em Cape-Town, em Sidney, em Paris,
tem um sabor generoso e fino
o sangue que dos cais exportamos em barris.
As margens do Douro são penedos
fecundados de sangue e amarguras
onde cava o meu povo as vinhas
como quem abre as próprias sepulturas:
nos entrepostos dos cais, em armazéns,
comerciantes trocam por esterlino
o vinho que é o sangue dos seus corpos,
moeda pobre que são os seus destinos.
Em Londres os lords e em Paris os snobs,
No Cabo e no Rio os fazendeiros ricos
acham no Porto um sabor divino,
mas a nós só nos sabe, só nos sabe,
à tristeza infinita de um destino.
O rio Douro é um rio de sangue,
por onde o sangue do meu povo corre.
Meu povo, liberta-te, liberta-te!,
Liberta-te, meu povo! - ou morre.
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