segunda-feira, 31 de março de 2014

Reponho uma poesia do poemário O canto em mim:


Reflexão útil num dia de chuva

Eu gosto de tudo o que faço.
O que não faço, não
é aquilo que faço.
Pura Tautolgia! Dir-me-ão:
antes tautólogo
que tarólogo.
Podia ter dito tautologista;
podia ter dito tarologista.
Apenas não quis ficar sem o logos.
Não sou esteta, nem mesmo
obstetra.Poderá haver quem me pense um tetraedo:
não sou e da Geometria
apenas me interessa
a primeira letra.
A chuva cai, líquida
como convém a toda a chuva
e depois pára, sem reflectir.

António Eduardo Lico
Uma poesia da poetisa hondurenha Rebeca Ethel Becerra Lanza:

Distanciamiento

Hoy quiero descansar
bajo la sombra de un almendro
pero los que conozco
están derramando lágrimas
y no me gustan las sombras tristes
tal vez los hombres tristes
tal vez las mujeres tristes

Hoy mi ser no tiene territorio
vivo en un paraíso de metales
no hay dioses
no hay hombres
sólo mi pensamiento sin frontera
nadie puede llegar si no es por mi camino
nadie puede tocarme si no me ha tocado
    antes.

domingo, 30 de março de 2014

Reponho uma poesia do poemário O canto em mim:

Canto por las cigarreras de Sevilla

 La niña, com su alma suspendida
En las fraguas de la saeta
le pedia a la Macarena dos lunas

Ay Sevilla que se perdieran
tus cigarreras.La Carmen
y su tragedia de riendas y siedas

perdida en la nervuras
del Guadalquivir que corre
en todas las varandas de Sevilla

Y todo es solo aire y agua
y se queda en un punto solo
la Macarena y sus lunas

António Eduardo Lico
Uma poesia da poetisa salvadorenha Matilde Elena López:

Cielo escondido

Me ofreces ese cielo
Que no alcanzo.
Serio me dices
Que te dé la mano.

¡Mucho tendremos que luchar
por ese cielo!

Porque ¡dímelo tú,
Si vendes ese cuadro!
¿Nos podría alcanzar
para ese sueño?

Y si vendo mis libros,
¿tú qué dices?
¿Podrán tus manos
alcanzarme el cielo?

sábado, 29 de março de 2014

Reponho uma poesia do poemário O canto me mim:

Aos poetas que procuram o Graal

 Não invejo os poetas que buscam o Graal
nem os que procuram as vírgulas
que não se escrevem.
As palavras são mais lendárias
que todos os Graal, excepto o Graal.
Eu não procuro o Graal; sei que ele
existe na sua não existência.

Ele, o Graal,
plácido como convém a um Graal,
não espera visitas de poetas.

António Eduardo Lico
Uma poesia do poeta mexicano José Landa:

Apunte para un recado de viaje

Si empezara con cualquier línea, si empezara.
Diría que al marcharte en el lomo de aquel amanecer
escapabas de las húmedas manos de la noche,
del latir del arroyo en franco celo, su deseo indiscreto de mirarte.
Quizá debas saber que aunque te vayas,
las tardes de ese abril bajo el sordo sonido de la lluvia
y su galope de animal azabache que hacía tañer los cascos en el lodo,
el aroma de limonarios y naranjos y tu voz de relámpago en los cerros,
son las cosas privadas que ahora quedan,
al custodio de niños aprendices del arte de guardar siempre silencio.
Te podrás ocultar a la mirada, y al tacto –puede ser–
de esta necia manera de buscarte
entre caminos, ríos, incluso en el rumor del puerto más cercano,
pero el tiempo que es nuestro, y es moneda corriente de navíos,
te ha de sacar a flote como la imagen oculta entre los libros,
la línea, la palabra, la soledad con que quiso iniciar este recado.

sexta-feira, 28 de março de 2014

Reponho uma poesia do poemário O canto em mim:

Poema do colibri que morreu entre flores

(Dedicado à Antonia Penhalver)

Tinhas como sonho as flores,
tu colorido colibri que tantas vezes
perfumaste o invisível ar que te sustentava
com inesperados néctares.
O silêncio em que agora voas
bate as asas como se fora flor.

António Eduardo Lico
Uma poesia da poetisa colombiana Eva del Pilar Duran:

en esta ciudad construiré mi casa
la vestiré de madera virgen y yerba fresca
crecerá al conjuro de la lluvia
refugiará proyectos tontos
actos criminales
sueños primigenios
los miedos de mi niña
y el espectro de Pilar (mi joven abuela)
sonriendo enamorada en la estancia luminosa
(28 años de ser pequeña y coqueta,
43 buscando salidas (o entradas)
en los corredores de la muerte
cayendo cada vez más hacia abajo
cada vez más hacia adentro]
la cabeza disecada
de un torero exitoso
será el orgullo
de mi sala de trofeos

En cuanto a tí
Te coseré el cuerpo a pedazos
De musgo, de amor
Y tizón ardiente
Te llamaré Fernando
Y serás mi hijo

Mi casa
tan profunda
como los aullidos del holocausto
tan suave como una caricia
sobre la tumba de mamá

quinta-feira, 27 de março de 2014

Reponho uma poesia do poemário O canto em mim:

Epur si muove

 Gira, de amor se colhem frutos,
a roda que os Fados movem,
dignos dos mais olímpicos deuses;
vão-se os frutos com a roda
e os Fados são quem vencem.

António Eduardo Lico
Uma poesia da poetisa cubana Odalys Leyva Rosabal:

A VECES MUDA

Estoy aquí tal vez un poco muda
indiscutible sí pero desnuda
(golondrina que nunca jamás vuele)
A veces soy la piedra y no me duele
del mundo cómo oscilan sus perfiles
Y soy la dama ciega sin alfiles
(Artemisa  Penélope  Cleopatra)
Nadie grite no soy quien idolatra
el símbolo ilusorio que nos dicta
un negligente azar
                       Soy la convicta.

quarta-feira, 26 de março de 2014

Reponho uma poesia do poemário O canto em mim:

Soneto sem Musa 


Eram claros esses teus olhos cheios
De onde manam luzes como fontes
Como alegria vinda dos montes
Que forma frescos e mansos ribeiros

Dos meus olhos sempre foram alheios
De presos em distantes horizontes,
Juízes não eleitos, mas arcontes.
Como rosas brincando de luzeiros

Musa não eras, mesmo que te cante
E os teus olhos tinham doces rosas
Como se a luz fora diamante

Rosas tinham, eu sei, mas angulosas.
Claras, e de perfume tão distante,
Frescas fontes, águas tão amargosas.

António Eduardo Lico
Uma poesia de Sidónio Muralha:

SONETO IMPERFEITO DA CAMINHADA PERFEITA

Já não há mordaças, nem ameaças, nem algemas
que possam perturbar a nossa caminhada,
em que os poetas são os próprios versos dos poemas
e onde cada poema é uma bandeira desfraldada.

Ninguém fala em parar ou regressar.
Ninguém teme as mordaças ou algemas.
- O braço que bater há-de cansar
e os poetas são os próprios versos dos poemas.

Versos brandos... Ninguém mos peça agora.
Eu já não me pertenço: Sou da hora.
E não há mordaças, nem ameaças, nem algemas

que possam perturbar a nossa caminhada,
onde cada poema é uma bandeira desfraldada
e os poetas são os próprios versos dos poemas.

terça-feira, 25 de março de 2014

Reponho uma poesia do poemário O canto em mim:

Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei...
(Manuel Bandeira)

Vou-me embora para Lisboa

 Vou-me embora para Lisboa.
Lisboa é filha do Tejo
e eu sou filho das ondas,
filho das ondas do mar,
filho do sopro do vento.
Vou-me embora para Lisboa.
Lisboa tende para o azul,
o Tejo e o mar encontram-se
percorrendo Lisboa;
o Tejo com vontade
de partir para longe,
o mar com vontade
de visitar os segredos de Ulisses.
Vou-me embora para Lisboa.
Lá tem uma viela
onde o azul é mais azul
e posso ter todas as princesas mouras
que eu quiser, e ouvir o canto
dolente das guitarras.
Vou-me embora para Lisboa.
Vou ver-te olhar o cais
vou ver o Tejo afogar-se,
azul, no mar todo.

António Eduardo Lico
Uma poesia de José Saramago:


Na ilha por vezes habitada

Na ilha por vezes habitada do que somos, há noites, 

manhãs e madrugadas em que não precisamos de 
morrer. 
Então sabemos tudo do que foi e será. 
O mundo aparece explicado definitivamente e entra 
em nós uma grande serenidade, e dizem-se as 
palavras que a significam. 
Levantamos um punhado de terra e apertamo-la nas 
mãos. 
Com doçura. 
Aí se contém toda a verdade suportável: o contorno, a 
vontade e os limites. 
Podemos então dizer que somos livres, com a paz e o 
sorriso de quem se reconhece e viajou à roda do 
mundo infatigável, porque mordeu a alma até aos 
ossos dela. 
Libertemos devagar a terra onde acontecem milagres 
como a água, a pedra e a raiz. 
Cada um de nós é por enquanto a vida. 
Isso nos baste.

segunda-feira, 24 de março de 2014

Reponho uma poesia do poemário O canto em mim:

Este rio que descubro em mim

Este rio que descubro em mim
não sei em que fontes nasceu.
É de melancolia a frescura
desta água, e deste rio
que me mata a sede
e põe navios no teu riso.
Será de espanto esta torrente
que me enche e me esvazia
e não sei em que fontes nasceu
este rio que descubro em mim.

António Eduardo Lico
Uma poesia da poetisa galega Maria do Cebreiro


SE NON CRUZAS A RÍA...

Se non cruzas a ría, nunca terás nin néboa nin presencia
no abismo do meu trono. Esa é, nin máis nin menos,
a primeira das ordes que lle dei
para probar o seu atrevemento.
Al cruzar la barca le dije al barquero: las niñas bonitas
no llevan dinero, por iso me convidas con frecuencia
e pouso na túa lingua unha moeda vella de metal
ou unha nova só de chocolate.
E cruzamos os ríos da memoria,
e como lexionarios a punto da conquista,
chamados polos nomes desde a beira contraria
seremos inmortais, confundiremos
a seiva e a saliva de los árboles, das árbores que somos.
Ou como combatentes dispostos a morrer
na defensa dos símbolos
pasaremos o mar pola peneira na procura das onzas,
esfarelando o trigo, vendo o gran nos teus ollos
e o cereal nos meus, sen expurgar.
Porque hai sempre un residuo de vida que lembramos:
a vida coincidente. Velocidades houbo da outra banda
que o impulso dos motores dificulta
e estas gotas de chuvia levan incorporado
o esquenzo, disolvente das ánimas,
das bágoas anteriores que utilizo para inundar a pluma
e escribir ao dictado dos meus deuses
que os barqueiros non morren
sen dar antes razón da súa existencia.

Sempre a tristeza soubo defenderme do mar.

domingo, 23 de março de 2014

Reponho uma poesia do poemário O canto em mim:

Leva-me o vento...

Leva-me o vento, brandamente,
como se empurrasse as velas
de um veleiro.
Deixo-me levar, porque quero,
a geografia não me interessa,
nem os mapas do meu ser
se podem cartografar.
Leva-me o vento, brandamente,
e nada faço, a não ser deixar-me levar.
Nada sei da rosa dos ventos,
sei apenas das rosas, essas,
a que o vento acaricia brandamente.

António Eduardo Lico
Uma poesia do poeta guatemalteco Otto René Castillo:

Nuestra voz

Para que los pasos no me lloren,
canto.
Para tu rostro fronterizo del alma
que me ha nacido entre las manos:
canto.
Para decir que me has crecido clara
en los huesos amargos de la voz:
canto.
Para que nadie diga: tierra mía!,
con toda la decisión de la nostalgia:
canto.
Por lo que no debe morir, tu pueblo:
canto.
Me lanzo a caminar sobre mi voz para decirte:
tu, interrogación de frutas y mariposas silvestres,
no perderás el paso en los andamios de mi grito,
porque hay un maya alfarero en su corazón,
que bajo el mar, adentro de la estrella,
humeando en las raíces, palpitando mundo,
enreda tu nombre en mis palabras.
Canto tu nombre, alegre como un violín de surcos,
porque viene al encuentro de mi dolor humano.
Me busca del abrazo del mar hasta el abrazo del viento
para ordenarme que no tolere el crepúsculo en mi boca.
Me acompaña emocionado el sacrificio de ser hombre,
para que nunca baje al lugar donde nació la traición
del vil que ato su corazón a la tiniebla inegándote!

sábado, 22 de março de 2014

Reponho uma poesia do poemário O canto em mim:

Este chão que piso

Este chão que piso, sustenta-me
e é a minha pequena pátria.
Este chão que piso
é onde os meus pés pisam.
Movo-me com cuidado
e quando me ausento
deste chão que piso, tenho saudades.
Regresso onde os meus pés pisam
e sei que estou na minha pequena pátria.

António Eduardo Lico
Uma poesia de Fernando Echevarria:

Vinham Rosas na Bruma Florescidas

Vinham rosas na bruma florescidas
rodear no teu nome a sua ausência.
E a si se coroavam, e tingiam
a apenas sombra de sua transparência.

Coroavam-se a si. Ou no teu nome
a mágoa que vestiam madrugava
até que a bruma dissipasse o bosque
e ambos surgissem só lugar de mágoa.

Mágoa não de antes ou de depois. Presente
sempre actual de cada bruma ou rosa,
relativos ou não no espelho ausente.

E ausente só porque, se não repousa,
é nome rodopio que, na mente,
em bruma a brisa em que se aviva a rosa.

sexta-feira, 21 de março de 2014

Reponho uma poesia do poemário O canto em mim:


O gato é um tigre melancólico

Um gato é um tigre melancólico.
Contenta-se em ser apenas gato,
com artifícios no olhar
e filosofia no corpo lânguido.
Caminhando vagarosamente
na beira do telhado, entre
chão e nuvens, quase rente ao voo,
é apenas um gato.
Nós é que gostamos de o imaginar
como se fora um tigre melancólico.

António Eduardo Lico
Uma poesia da poetisa peruana Gloria Davila:



YO NO ME CORRO DE CÚSPIDES EN HIELO


                                                                                                 Me moriré en París con aguacero
                                                                                                 un día del cual tengo ya el recuerdo.
                                                                                                 Me moriré en París - y no me corro-
                                                                                                 tal vez un jueves, como es hoy, de otoño.


                                                                                                                                             César Vallejo



Yo no me corro…
de cúspides en hielo
noches en tormentas
fuego a ciempiés
panes podridos en alacenas olvidadas
esputo salado
y mis falanges en cascadas escarchadas.

No, yo no me corro de la noche hambrunal
niños en llanto madrigueras
de los ojos rojos de la ira por la pútrida vida
que llaga mis alforjas sonajas.

Yo, no me corro de
tus labios secos de la mar en sentencias vivas
de no saber si es inerte muerte en cadenas
porque mi candente infierno es ojo del venado herido
entre punas desiertas y estepas repletas de tu hambre.

No, yo no me corro de todo lo que en ciernes
será mi cruz…
corona de sombras huidizas
de mis huesos hoy polvo herido
echando murmullos a versos escasos.

No, yo no me corro…
ni espero guadañas perladas
rondando mi anatomía estrecha
que agazapada transcurre
y que el pan no lo señale, con el dedo acusador
no, no me corro
y te espero
rueda del ocaso
tirada por carrozas esqueléticas
de tu olvido en abismos.

Sí, te espero
porque tú hambre, te irás para siempre.

quinta-feira, 20 de março de 2014

Reponho uma poesia do poemário O canto em mim:


De noite a lenha arde obscura

De súbito, era tudo noite
e o silêncio ardeu
como obscura lenha.
De súbito, era tudo silêncio
e a noite ardeu
como obscura lenha.
E era apenas noite e silêncio
e lenha que ardia, obscura.

António Eduardo Lico
Uma poesia do poeta peruano César Moro:

El fuego y la poesía

I
Amo el amor
El martes y no el miércoles
Amo el amor de los estados desunidos
El amor de unos doscientos cincuenta años
Bajo la influencia nociva del judaísmo sobre la vida monástica
De las aves de azúcar de heno de hielo de alumbre o de bolsillo
Amo el amor de faz sangrienta con dos inmensas puertas al
vacío
El amor como apareció en doscientas cincuenta entregas
durante cinco años
El amor de economía quebrantada
Como el país más expansionista
Sobre millares de seres desnudos tratados como bestias
Para adoptar esas sencillas armas del amor
Donde el crimen pernocta y bebe el agua clara
De la sangre más caliente del día

quarta-feira, 19 de março de 2014

Reponho uma poesia do poemário O canto em mim:

Te quisera verde

Queria-te como o trigo
ondulando, verde, ao longe,
como uma melodia.
Queria-te como o vento
Que ondula o trigo,
ao longe, como uma melodia.
Queria-te verde. Como a melodia
entoada pelo trigo, que ondula,
ao longe, embalado pelo vento.

António Eduardo Lico
Uma poesia da poetisa salvadorenha Roxana Méndez:


Hacia El Poema
Las manos desatadas por un soplo inhumano
regresan en las noches, las auroras, los días,
ánforas que trasnochan sobre láminas frías
y fiebre que congela sabores del verano. 

Las sílabas secretas todavía se esconden
para encontrar senderos de antiguas lejanías
,amarillas distancias, viajantes melodías
que en el papel preguntan y en el papel responden... 

Continúa el silencio, los ritmos y las pausas
y los vientos de otoño son vientos y son causas
a través de las noches, las auroras, los días... 

Y siguen las palabras muriendo y renaciendo,
los pensamientos rotos que el viento va tejiendo
entre estas estaciones que no vienen vacías...

terça-feira, 18 de março de 2014

Reponho uma poesia do poemário O canto em mim:

Flor que brilhas no jardim

Flor que brilhas no jardim
é breve o teu perfume;
a cor que te acaricia
as pétalas é fugaz.
Olho-te, e sei que a vida
te será breve.
Não sou filósofo, nem metafísico
nem sei porque me sento num jardim.
Sei-te breve, flor que brilhas no jardim,
o teu perfume me alimentará
e o instante será breve.
A tua seiva quente penetrará a terra.
Não sei porque me sento num jardim.

António Eduardo Lico
Uma poesia da poetisa cubana Luisa Oneida Landín Ramos:

OTRA VERSIÓN DE LA SOLEDAD


si al menos pudiera permitirles
que extrañasen el calor de mi vientre.
yo no los quise culpables
aullando como perros heridos
maldiciendo la gota de agua
 el aire de sus pulmones.
yo los traje a mi pecho
junto a los incautos vericuetos de las paredes.

ya no más
silencio de madre acorralada por las mismas
 manos que sostuve.
mi soledad es cima
carezco de armadura
muda de piel voy hacia lo absurdo.
mi soledad no es un espacio vacío:
aquí están llenas todas las palabras.

segunda-feira, 17 de março de 2014

Reponho uma poesia do poemário O canto em mim:

De Eros era a rosa

De Eros era a rosa
que em Prometeu
foi Fogo e limo.
depois centelha de vida.
Seria já rosa
o que Pandora
escondia na caixa divina?
Da rosa apenas ficou
a esperança encerrada;
a caixa fechou-se.
Prometeu, eternamente
devorado, e sempre renascido
como o lume que se reacende
e torna fresca a eterna rosa.

António Eduardo Lico
Uma poesia da poetisa salvadorenha Elisa Huezo Paredes:

LA DUDA

Y un vislumbre se vio. ! Era la lumbre!
que entre sombras lejanas se acercaba,
por violentos instantes se alejaba
y volvía otra vez la incertidumbre.

¿Era El Pájaro Azul allá en la cumbre
acaso, el mensajero que Ella enviaba?
aún no sabía pero ya le amaba
la Voz del Pueblo en recia muchedumbre.


!La Voz del Pueblo! Como Voz del cielo
su esperanza mezclada con recelo
mas su coraje era dolor que ardía;

Sosteniendo su amargo desconsuelo
con su antiguo valor y alma bravía
retaban a la pólvora y al duelo.

domingo, 16 de março de 2014

Reponho uma poesia do poemário O canto em mim:

Despertai deuses antigos

Oh deuses antigos, despertai
do vosso olímpico sono,
vinde à Terra das Laranjas
e trazei o sagrado mosto
das antigas libações.
Oh deuses antigos, vinde,
vinde à Terra das Laranjas,
trazei o sopro antigo
que do mosto fazia o vinho
e tornava as profecias
em eternas melodias.

António Eduardo Lico
Uma poesia de Rosalia de Castro:

Pasa río, pasa, río
co teu maino rebulir
pasa, pasa ante as froliñas
color de ouro marfil,
a quen cos teus doces labios
tan doces cousas lle dis.

sábado, 15 de março de 2014

Reponho uma poesia do poemário O canto em mim:

Poesia imaginada e enigmática

O enigma que me veste
canta com muitas vozes
o espanto com que me fito.

António Eduardo Lico
Uma poesia da poetisa argentina Justina Cabral:

INVIERNO Y PRIMAVERA

Perfuma con amor la primavera
violetas, crisantemos, y amapolas
y los gorriones con sus bellas colas
esperan una dama que los quiera.

La brisa se despeina pasajera
jugando con los bucles de las olas
y cantan bajo el mar las caracolas...
¡Saludan a la flor... reina primera!

Un árbol se ha vestido de dorado,
y teje junto al viento mi azul cielo
manoplas con ovillo colorado.

Y un niño sobre un banco está sentado
Armando grandes pompas con el hielo
con saco y con botines abrigado.

sexta-feira, 14 de março de 2014

Reponho uma poesia do poemário O canto em mim:

La Tristesse est triste

La tristesse est plus triste
quand le Printemps habille
de vert tes yeux, et le vent
fait naître des hirondelles,
ces roses tristes
qui parfument l’air,
et peignent tes cheveaux
de melodies secrètes.

António Eduardo Lico
Uma poesia da poetisa colombiana Johanna Marcela Rozo Enciso:

ÍNTIMO

Hoy me desperté convertida
en un rincón oscuro.

En un retrato de mi propio espectro
fragmentada entre el rostro de la muerte
y la silueta de tu desaparición.

Hoy solo puedo explicar
que amanecí enjaulada
y me asemejo con la caperuza
a la flor marchita
que ocupa resignada
la página 29 del libro de poemas.

quinta-feira, 13 de março de 2014

Reponho uma poesia do poemário O canto em mim:~

Marítima

 En la orilla, esa que lle llaman, de la mare
las arenas son el testigo antiguo
de noches y luna naciendo en tu seno.

António Eduardo Lico


Uma poesia de José Miguel Silva:


Estava eu sentado

Estava eu no segundo passo da ditosa via sacra
da contracultura - charros, beatniks, Guy Debord -
quando dei comigo a ler um poeta conservador
e a pensar na beleza enigmática das suas imagens,

na mesa posta com autoridade; uma força
que me remetia para a precisão do mal e para
a contraposta redenção estética da vida.
Nessa altura conheci um rapaz que me dizia

as coisas mais desagradáveis, por exemplo:
"nem oito nem oitenta" ou "cuidado com
as vírgulas nos olhos". Foi ele que me ensinou
a não confundir a fome com a pressa de comer.

A condição natural do jovem lobo, dizia,
está na via sinuosa. As paredes de neve
cada vez mais alta, a vida retirada...

quarta-feira, 12 de março de 2014

Reponho uma poesia do poemário O canto em mim:

Em Lisboa a claridade é azul

Canto-te Lisboa
e quero-te azul,
como quando o Tejo
é o azul do teu céu.

António Eduardo Lico
Uma poesia da poetisa porto-riquenha Ana María Fuster:

Desde el desierto de las sombras


Estoy en el desierto de las sombras:
aquí, la muerte serena tomó café junto a mi reflejo,
una niña observa,
sólo queda la dorada huella de sus pies sin cuerpo
desde su boca de lágrimas navega el mar de los exilios.
Creí soñar con su mirada,
con sus manos al cielo, tan pequeñas,
que acurrucaron mis dolores y sonreían en mi aliento
danzar quise junto a su recuerdo,
pero, como siempre, huye.

Aquí, la noche es una ventana hacia el abismo.
Me asomo, me falta el aire
y un abandono de silencios duele en el alma
y la venganza es un eclipse de miedos deshabitados
Sigo aquí, aunque la soledad me hace el amor cada mañana...
no tengo miedo,
los minutos me aman en las noches.

Mi diario sobrevive con arena y versos ajenos;
secretos de nuevas risas, espejos y caricias.
Pero a página llega a su fin,
y pretendo morir bajo el árbol de su nombre de niña perdida
porque talaron hasta la última primavera de una ciudad sin cuerpos.

Recuperé la voz en el desierto de las sombras
fue tarde, demasiado tarde…
Mis palabras peregrinaron tras las huellas de sus ojos,
respiró el aire de mi sombra alejada en otro eco
y es que el tiempo jugó a la ruleta con un pirata,
muriendo sangres de manantiales deshidratados
y así como el poeta, tampoco me quedan muertes para nacer,
sólo unas cuantas botellas vacías y la espera…

terça-feira, 11 de março de 2014

Reponho uma poesia do poemário O canto em mim:

Entre a Claridade e a sombra…a rosa

Era clara a obscuridade
que habitava, fria,
a sombra dos teus olhos.
Uma brusca rosa
nascia-te nos cabelos.

António Eduardo Lico
Uma poesia de Cesário Verde:

De Tarde

Naquele pique-nique de burguesas,
Houve uma coisa simplesmente bela,
E que, sem ter história nem grandezas,
Em todo o caso dava uma aguarela.

Foi quando tu, descendo do burrico,
Foste colher, sem imposturas tolas,
A um granzoal azul de grão-de-bico
Um ramalhete rubro de papoulas.

Pouco depois, em cima duns penhascos,
Nós acampámos, inda o Sol se via;
E houve talhadas de melão, damascos,
E pão-de-ló molhado em malvasia.

Mas, todo púrpuro a sair da renda
Dos teus dois seios como duas rolas,
Era o supremo encanto da merenda
O ramalhete rubro das papoulas!

segunda-feira, 10 de março de 2014

Reponho uma poesia do poemário O canto em mim:

In the silence there is a rose

Sometimes, when your eyes find my eyes
your enigmatic silence
is as if you were asking me – what is a rose?
I close my eyes and seal my lips
and the rose is between our silence.

António Eduardo Lico
Uma poesia do poeta cabo-verdeano Jorge Barbosa:

POEMA DO MAR

O drama do Mar,
O desassossego domar,
                   sempre
                   sempre
                   dentro de nós!

O Mar!
cercando
prendendo as nossa Ilhas!
Deixando o esmalte do seu salitre nas faces dos pescadores,
Roncando nas areias das nossas praias,
Batendo a sua voz de encontro aos montes,
baloiçando os barquinhos de pau que vão Poe estas costas...

O Mar!
pondo rezas nos lábios,
deixando nos olhos dos que ficaram
a nostalgia resignada de países distantes
que chegam até nós nas estampas das ilustrações
nas fitas de cinema
e nesse ar de outros climas que trazem os passageiros
quando desembarcam para ver a pobreza da terra!

O Mar!
a esperança na carta de longe
que talvez não chegue mais!

O Mar!
Saudades dos velhos marinheiros contando histórias de tempos passados,
Histórias da baleia que uma vez virou canoa...
de bebedeiras, de rixas, de mulheres,
nos portos estrangeiros...

O Mar!
dentro de nós todos,
no canto da Morna,
no corpo das raparigas morenas,
nas coxas ágeis das pretas,
no desejo da viagem que fica em sonhos de muita gente!

Este convite de toda a hora
que o Mar nos faz para a evasão!
Este desespero de querer partir
         e ter que ficar!

domingo, 9 de março de 2014

Reponho uma poesia do poemário O canto em mim:

Que este olhar não me vê

Oculto-me na multidão
e vejo-me passar ao longe.
Fito-me como se fosse estranho.

António Eduardo Lico
Uma poesia de Herberto Hélder:



Levanto as mãos e o vento levanta-se nelas



LEVANTO as mãos e o vento levanta-se nelas.

Rosas ascendem do coração trançado

das madeiras.

As caudas dos pavões como uma obra astronómica.

E o quarto alagado pelos espelhos

dentro. Ou um espaço cereal que se exalta.

Escondo a cara. A voz fica cheia de artérias.

E eu levanto as mãos defendendo a leveza do talento

contra o terror que o arrebata. Os olhos contra

as artes do fogo.

Defendendo a minha morte contra o êxtase das imagens.

sábado, 8 de março de 2014

Reponho uma poesia do poemário O Canto em mim:

Poema para qualquer mulher

A vida desenhou-te
eterna efeméride no rosto,
ocultou nos teus olhos o feitiço da lua
e deu aos teus lábios
o sabor de todos os frutos

António Eduardo Lico

Uma poesia de Rosângela Darwich:

Histórias Mortas

Depois de mortas todas as histórias,
os segundos seguiram-se em suicídio.
Palavras contrapostas ao eterno
fecharam-se em círculos.
Os deuses foram expulsos em segredo
do céu desfeito em paraíso.
Havia sido o riso, havia sido o medo,
a glória, havia sido.
Asas do nada, a memória
deste corpo vazio como o espírito.
Asas do nada, a memória
concorda, enfim, comigo.

sexta-feira, 7 de março de 2014

Reponho uma poesia do poemário O canto em mim:

Le silence d’une rose

Comme si tous les parfums
habitaient tes lèvres,
le silence a fermé ta bouche
comme une rose

António Eduardo Lico
Uma poesia de Li Bai, tradução de António Graça de Abreu:


O pescador

A terra bebeu a neve
e, de novo, desabrocham
as flores de pessegueiro.
O lago é prata derretida
e são ouro recente
as folhas do salgueiro.
Sobre as flores
borboletas empoadas
descansam suas cabeças de veludo.
Quebra-se a superfície do lago
quando, do barco parado,
o pescador lança as redes.
Seu pensamento está com a mulher amada.
Ele regressa ao lar,
tal como a andorinha
leva comida ao seu par.

quinta-feira, 6 de março de 2014

Reponho uma poesia do poemário O canto em mim:

Elegia para uma flor morta

A obscura flor morta
pensa ainda no seu perfume
quando os insectos
procuram nas suas pétalas mortas
a fragrância que a animou.

António Eduardo Lico
Uma poesia do poeta hondurenho Rubén Izaguirre Fiallos:

Mala memoria

No recuerdo
este lunar
que hoy
aparece en uno de mis brazos.

Estuve tomando café, ayer, hasta muy tarde.
Y quizá sea eso: un pequeño náufrago de café
que no pudo llegar hasta mis labios.

Mañana, lo interrogaré más despacio:
de qué planeta vino,
quién lo trajo,
que busca en mí;
si sabe algo de poesía
o conoce sobre las bellas artes;
si está aquí de vacaciones
o piensa quedarse.

quarta-feira, 5 de março de 2014

Reponho uma poesia do poemário O canto em mim:

O azul do céu azul

O azul do céu é azul
quando o céu é azul.
Quando o céu não é azul
o azul do céu não é azul.
O azul do céu quando
o Céu é azul não é bom
para os filósofos;
é só azul, sem filosofias;
e de metafísica
apenas existe a vaga
noção que tenho do azul
do céu, quando é azul.

António Eduardo Lico
Uma poesia do poeta Manuel Gusmão:

a lagartixa
o pequeno sáurio
miniatura sobrevivente
de uma adaga pré-histórica
deixa cortada
e de si separada
a cauda, a lâmina em movimento
que fica para trás e deixa fugir
o tronco e os seus velocíssimos
dois pares de pés.

terça-feira, 4 de março de 2014

Reponho uma poesia do poemário O canto em mim:

Esta abrupta sede

Brusca e abrupta sede
me prende em atmosferas
de húmidas paisagens
que desenho e canto
no vértice da tua ausência

Antonio Eduardo Lico
Uma poesia da poetisa costariquenha Vilma Vargas Robles:

Jornada

Aquí quedó oscilando mi última furia.
Engullo cada mancha de la pared,
cada clavo.

Y me siento dueña de mi voz descolgándose,
 palpo sus aristas y me quedo quieta,
 absorbo su semilla y ya no se esparce.

 Me tiendo sin una piedra o talismán.
 Recorro el cuarto con los ojos abiertos:
 no hay visiones,
 sólo la noche que cae después del trabajo.

segunda-feira, 3 de março de 2014

Reponho uma poesia do poemário O canto em mim:

Esta mensagem que me chega

Eis como tudo começa:
de Hermes recebi a mensagem
que já me estava destinada

Recebo-a com a indiferença
gelada dos que não esperam.
Os  deuses já conhecem todas
as mensagens e Hermes
é apenas o velado mensageiro.

Antonio Eduardo Lico
Uma poesia de António Ramos Rosa:

Atento, vejo a chama fulva da abelha

Atento, vejo a chama fulva da abelha
e a cadência do desejo monótono vagabundo
num pequeno corpo ardente e frágil.
O mundo aqui é um sopro verde
em que tudo flui em silenciosos gozos.
Na delícia do ócio o pensamento
entrega-se ao vento e ao olvido.
Só o desejo ordena o fluente ardor
que em mil meandros se propaga no ar.
E de tanto respirar essa pátria volante
eu própria sou a espessa substância do bosque.

domingo, 2 de março de 2014

Reponho uma poesia do poemário O canto em mim:

A Esfinge de ébano

Da esfinge de ébano,
a dos doces lábios
colhi apenas
amarga flor de silêncio

António Eduardo Lico
Uma poesia do poeta equatoriano Pablo Yépez Maldonado:

Poema con dos puntas de una estrella

Por vos
llegué a esto
tambaleándome por los tensos andamios del cosmos
vestido con luces del costillar humano
con tímpanos de lo efímero
como la muerte
por vos
encontré la cicatriz que se forma en el viento
y su signo
la luna de neón
y la mujer de sonido metálico
la estrecha sonrisa del horizonte
-imágenes encontradas al azar
en una funda de trapos viejos-
lo hermoso de una botella
incendiaria
las desiguales formas con las que golpea el agua
en las telas extendidas de la imaginación
las luces
y los inviernos de papel
los éxodos voluntarios
la oportunidad de estar vivos
y con ojos como reos de culpabilidad
por la tierna fuerza que se refugia
a la izquierda del corazón
por los márgenes clausurados
por la rutina que se descorcha cuando apareces
y de la nada fabricas
lo helechos emplumados para el amor
por la curva demasiado pronunciada
de la noche
o el estigma de la angustia
en nuestros pechos
por la lucha que damos
al ritmo
de estos espumosos
cuerpos.

sábado, 1 de março de 2014

Reponho uma poesia do poemário O canto em mim:

Fragmento para uma poesia

Afrodite nascia da água
e uma rosa era o silêncio
futuro que Eros havia de fazer

António Eduardo Lico
Uma poesia de Eugénio de Andrade:

Fecundou-te a vida nos pinhais

Fecundou-te a vida nos pinhais.
Fecundou-te de seiva e de calor.
Alargou-te o corpo pelos areais
onde o mar se espraia sem contorno e cor.
Pôs-te sonho onde havia apenas
silêncio de rosas por abrir,
e um jeito nas mãos morenas
de quem sabe que o fruto há-de surgir.
Brotou água onde tudo era secura.
Paz onde morava a solidão.
E a certeza de que a sepultura
é uma cova onde não cabe o coração.