segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

No aniversário do nascimento de Rosalia de Castro, fica aqui a homenagem:


Adios rios, adios fontes...

Adios, rios; adios, fontes;
adios, regatos pequenos;
adios, vista dos meus olhos:
nõe sei quando nos veremos.

Minha terra, minha terra,
terra donde me eu criei,
hortinha que quero tanto
figueirinhas que prantei,

prados, rios, arvoredas,
pinares que move o vento,
paxarinhos piadores,
casinha do meu contento,

muinho dos castanhares,
noites craras de luar,
campaninhas trimbadoras
da igrejinha do lugar,

amorinhas das silveiras
que eu lhe dava ao meu amor
caminhinhos antre o milho,
adios, para sempre adios!

Adios, grória! Adios, contento!
Deixo a casa onde nacim,
deixo a aldea que conosso
por um mundo que nõe vim!

Deixo amigos por estranhos,
deixo a veiga polo mar,
deixo, em fim, quanto bem quero...
quem pudera no o deixar...!

Maes som probe e, mal pecado!,
a minha terra n'é minha,
que hastra lhe dãe de prestado
a beira por que caminha
ao que naceu desdichado.

Tenho-vos, pois, que deixar,
hortinha que tanto amei,
fogueirinha do meu lar,
arvorinhos que prantei,
fontinha do cavanhar.

Adios, adios, que me vou,
ervinhas do campo-santo
donde meu pai se enterrou,
ervinhas que biquei tanto,
terrinha que vos criou.

Adios, Virge da Assunciõe,
branca como um serafim:
levo-vos no corassõe;
pedide-lhe a Dios por mim,
minha Virge da Assunciõe.

Já se oiem longe, moi longe,
as campanas do Pomar;
para mim, ai!, coitadinho,
nunca mais hãe de tocar.

Já se oiem longe, mais longe...
Cada balada é um dolor;
vou-me soio, sem arrimo...
Minha terra, adios!, adios!

Adios tamém, queridinha...!
Adios por sempre quiçais...!
Digo-che este adios chorando
desde a beirinha do mar.

Nõe me olvides, queridinha,
se morro de soidás...
tantas légoas mar adentro...
Minha casinha!, meu lar!

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