domingo, 8 de abril de 2012

Cesare Pavese é o poeta de hoje.
Nascido em 1908 e falecido em 1950. Publica Lavorare Stanca em 1936.  Poeta, ficcionista e tradutor. Traduziu e fez estudos de autores norte-americanos.
A beleza e nostalgia dos seus poemas, bem como a presença constante da morte, como se fosse companheira inseparável da sua vida.
Fica este poema:


A Noite

Mas a noite ventosa, a noite límpida
que a lembrança somente aflorava, está longe,
é uma lembrança. Perdura uma calma de espanto,
feita também ela de folhas e de nada. Desse tempo
mais distante que as recordações apenas resta
um vago recordar.

As vezes volta à luz do dia,
na imóvel luz dos dias de Verão,
aquele espanto remoto.

Pela janela vazia
o menino olhava a noite nas colinas
frescas e negras, e espantava-se de as ver assim tão juntas:
vaga e límpida imobilidade. Entre a folhagem
que sussurrava na escuridão, apareciam as colinas
onde todas as coisas do dia, as ladeiras
e as árvores e os vinhedos, eram nítidas e mortas
e a vida era outra, de vento, de céu,
e de folhas e de coisa nenhuma.

Às vezes regressa
na imóvel calma do dia a recordação
daquele viver absorto, na luz assombrada.

Tradução de Carlos Leite

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