Pior que roubar um banco é fundar um banco
Bertold Brecht
Poema concreto
Escrevo poemas que quisera
efémeros, como o vento
que beija as flores
e levanta ondas ao mar
para logo se desfazem na areia da
praia,
como se o mar todo se acabasse naquele
momento.
O vento quando beija as flores
não é como um cheque, ou uma letra:
quando se acabam, os bancos emitem
mais.
Mesmo que se lhes acabe o dinheiro,
emitem mais. Porque eu não posso
emitir o meu dinheiro quando se me
acaba?
Quando se me acabam as flores, procuro
por mais.
O vento quando beija as flores,
beija-as
como se nunca acabasse, e se acabasse
o saldo não seria negativo.
Até o Olimpo e os belos deuses gregos
se acabaram; ninguém se importou
em emitir mais; depois vieram profetas
que emitiram deuses e paraísos
diferentes
Os bancos e os banqueiros
emitem dinheiro como se
emitissem paraísos e divindades.
Houvera quem os roubasse
como o vento rouba das flores
os perfumes.
António Eduardo Lico
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