Nascido no Recife em 1886 Manuel Bandeira é o poeta de hoje.
Aceite como integrante da geração de 22 do modernismo brasileiro, Manuel Bandeira não participou na Semana da Arte Moderna de 1922, mas enviou um poema - O Sapo - que foi lido no evento.
O seu estilo, directo e simples, mantém contudo a chama lírica, contrariamente ao também pernambucano João Cabral de Melo Neto.
Manuel Bandeira, poeta, crítico literário e de arte, professor de literatura e tradutor, é um dos maiores vultos da poesia brasileira.
Ficam dois poemas:
O BICHO
Vi Ontem um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos.
Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.
O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.
O bicho, meu Deus, era um homem.
TRAGÉDIA BRASILEIRA
Misael, funcionário da Fazenda, com 63 anos de idade,
Conheceu Maria Elvira na Lapa, - prostituída, com sífilis, dermite nos dedos,
uma aliança empenhada e o dentes em petição de miséria.
Misael tirou Maria Elvira da vida, instalou-a num sobrado no Estácio, pagou
médico, dentista, manicura... Dava tudo quanto ela queria.
Quando Maria Elvira se apanhou de boca bonita, arranjou logo um namorado.
Misael não queria escândalo. Podia dar uma surra, um tiro, uma facada. Não fez
nada disso: mudou de casa.
Viveram três anos assim.
Toda vez que Maria Elvira arranjava namorado, Misael mudava de casa.
Os amantes moraram no Estácio, Rocha, Catete, Rua General Pedra, Olaria, Ramos,
Bonsucesso, Vila Isabel, Rua Marquês de Sapucaí, Niterói, Encantado, Rua
Clapp,
outra vez no Estácio, Todos os Santos, Catumbi, Lavradio, Boca do Mato,
Inválidos...
Por fim na Rua da Constituição, onde Misael, privado de sentidos e de
inteligência, matou-a com seis tiros, e a polícia foi encontrá-la caída em
decúbito dorsal, vestida de organdi azul.
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