terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Uma poesia de Vasco Gato:


Um dizer ainda puro

imagino que sobre nós virá um céu

de espuma e que, de sol em sol,

uma nova língua nos fará dizer

o que a poeira da nossa boca adiada

soterrou já para lá da mão possível

onde cinzentos abandonamos a flor.


dizes: põe nos meus os teus dedos

e passemos os séculos sem rosto,

apaguemos de nossas casas o barulho

do tempo que ardeu sem luz.

sim, cria comigo esse silêncio

que nos faz nus e em nós acende

o lume das árvores de fruto.


diz-me que há ainda versos por escrever,

que sobra no mundo um dizer ainda puro.

2 comentários:

  1. Obrigado Suzana.
    Conheço ainda relativamente mal a poesia de Vasco Gato, mas o que conheço faz-me pensar que é um muito bom poeta.
    Abraço.

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