segunda-feira, 14 de maio de 2012

Publius Ovidius Naso, Ovídio na Língua Portuguesa, é o poeta de hoje.
Nascido em Sulmo em 43 a.C. e falecido em 17 ou 18 d.C. é o celebrado autor de Heroides, Amores, Ars Amatoria, que são poemários de poesia erótica e Metamorfoses, este último todo ele dedicado à mitologia numa perspectiva de mudança, transformação.
Com Virgílo e Horácio forma a mais celebrada tríade de poetas romanos e da literatura latina.
Exerceu vasta influência na Antiguidade e Idade Media. Dante, Milton, Camões foram exemplos de poetas largamente influenciados por Ovídio. Mestre incontestado do dístico elegíaco, foi banido de Roma por Augusto e exilado no Ponto Euxini, Mar Negro onde iria falecer, em terras hoje situadas na actual Roménia.
Fica um excherto das suas Metamosfoses com tradução do poeta português Bocage:

Antes do mar, da Terra e Céu que os cobre
Não tinha mais que um rosto a Natureza:
Este era o Caos, massa indigesta, rude
E consistente só num peso inerte.
Das coisas não bem juntas as discordes,
Priscas sementes em montão jaziam;
O Sol não dava claridade ao mundo,
Nem, crescendo, outra vez se reparavam
As pontas de marfim da nova Lua.
Não pendias, ó Terra, dentre os ares,
Na gravidade tua equilibrada,
Nem pelas grandes margens Anfitrite
Os espumosos braços dilatava.
Ar e pélago e terra estavam mistos:
As águas era, pois, inavegáveis,
Os ares, negros, movediça, a terra.
Forma nenhuma em nenhum corpo havia
E neles uma coisa a outra obstava,
Que em cada qual dos embriões enormes
Pugnavam frio e quente, húmido e seco,
Mole e duro, o que é leve e é pesado.
Um Deus, outra mais alta natureza

À contínua discórdia enfim põe termo:
A Terra extrai dos céus, o mar da Terra
E ao ar fluido e raro abstrai o espesso.
Depois que a mão divina arranca tudo
Do enredado montão e o desenvolve,
Em lugares diversos que lhe assina,
Liga com mútua paz os corpos todos.
Súbito ao cume do convexo espaço
O fogo se remonta ardente e leve;
A ele no lugar, na ligeireza
Próximo fica o ar; mais densa que ambos
A Terra puxa os elementos vastos,
Da própria gravidade é comprimida.
O salitroso humor circunfluente
A possui, a rodeia, a lambe e aperta.
Assim, depois que o Deus (qualquer que fosse)


O grão corpo dispôs, quis dividi-lo
E membros lhe ordenou. Para que a Terra
Não fosse desigual em parte alguma,
Por todas a compôs em forma de orbe.
Ao mar então mandou que se esparzisse,
Que ao sopro inchasse dos forçosos ventos
E orgulhoso abrangesse as louras praias;
À mole orbicular deu fontes, lagos,
Rios cingindo com oblíquas margens,
Os quais, em parte obsortos pelas terras
Várias, que vão regando, ao mar em parte
Chegam e, recebidos lá no espaço
De águas mais livres e extensão mais ampla,
Em vez das margens assalteiam praias.
O Universal Factor também dissera:


“Descei, ó vales, estendei-vos, campos,
Surgi, montanhas, enramai-vos, selvas!”
Como o Céu, repartido, à dextra parte
Tem duas zonas, à sinistra, duas.
E uma, no centro, mais fogosa que elas,
Assim do Deus o próvido cuidado
Pôs iguais divisões no térreo globo,
Ele é composto de outras tantas plagas:
Aquela que das mais está no meio
Em calores inóspitos se abrasa;
Alta neve enregela e cobre duas;
Outras duas, porém, que entre elas ambas
O Númen situou, são moderadas:
Misto o frio e calor. Fica eminente
A estas o ar que, assim como é mais leve
O pesa da água que da terra o peso,
Tanto mais peso coube ao ar que ao fogo.
Deus ordenou que as névoas e que as nuvens
Errassem no inconstante, aéreo seio;
Que os ventos o habitassem, produtores
Dos penetrantes frios que estremecem,
E os raios, os trovões que o mundo aterram;
Mas o Supremo Autor não deu nos ares
Arbitrário poder aos duros ventos:
Bem que rebentem de encontrados climas,
Resistir-se-lhe pode à fúria apenas,
Vedar que em turbilhões lacere o mundo:
Tanta é entre os irmãos a desavença!
Euro foi sibilar ao céu da Aurora,


Aos reinos nabateus, à Pérsia, aos cumes
Que o raio da manhã primeiro alcança.
O Véspero, essas plagas, que se amornam
Com Febo ocidental, estão vizinhas
Ao Zéfiro amoroso; o fero Bóreas
Da Cítia fera e dos Triões se apossa;
As regiões opostas humedece
Austro chuvoso com assíduas nuvens.
O Númen sobrepôs aos elementos
O líquido e sem peso éter brilhante
Que das terrenas fezes nada envolve.
Logo que tudo com limites certos


Foi pela eterna dextra sinalado,
As estrelas, que opressas, que abafadas
Houve em si longamente a massa escura,
A arder por todo o Céu principiaram;
E, porque não ficasse do universo
Alguma região desabitada,
Astros e deuses tem o etéreo assento,
O mar aos peixes nítidos é dado,
Aves, ao ar, quadrúpedes, à terra.

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