terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Uma poesia de Manuel da Fonseca:

Tejo que levas as águas

Tejo que levas as águas
correndo de par em par
lava a cidade de mágoas
leva as mágoas para o mar

Lava-a de crimes espantos
de roubos, fomes, terrores,
lava a cidade de quantos
do ódio fingem amores

Leva nas águas as grades
de aço e silêncio forjadas
deixa soltar-se a verdade
das bocas amordaçadas

Lava bancos e empresas
dos comedores de dinheiro
que dos salários de tristeza
arrecadam lucro inteiro

Lava palácios vivendas
casebres bairros da lata
leva negócios e rendas
que a uns farta e a outros mata

Lava avenidas de vícios
vielas de amores venais
lava albergues e hospícios
cadeias e hospitais

Afoga empenhos favores
vãs glórias, ocas palmas
leva o poder dos senhores
que compram corpos e almas

Das camas de amor comprado
desata abraços de lodo
rostos corpos destroçados
lava-os com sal e iodo

2 comentários:

  1. Uma poesia forte falando das desigualdades da vida, de uns com tantos e outros com tão pouco, muito linda, gostei muito. Um abraço Antonio!

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    1. Obrigado Nádia pela visita e comentário.
      O Manuel da Fonseca, se bem que não se tivesse dedicado apenas à poesia, sempre que o fez, fê-lo bem e com sensibilidade apurada. Esta poesia foi musicada e cantada por Adriano Correia de Oliveira. Se procurar no youtube, encontra facilmente.

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