domingo, 13 de abril de 2014

Reponho uma poesia do poemário Amanhecer obscuro:

Secreta dorme no seu casulo...

Secreta, dorme no seu casulo
um sono suspenso, a crisálida.
Se Darwin te visse!
Se um criacionista, ou mesmo dois,
pudessem penetrar o teu sono!
Até um adepto de Lamarck
poderia investigar o teu caso!
Não queria falar em Lamarck...
Já sei que me vão falar em Lysenko.
Trofim Lysenko para ser quase exacto.
Tinha mais um nome, mas não vou usá-lo.
Quero apenas ser quase exacto.
A exactidão aprende-se, não está na genética.
É isso, Lysenko não queria a genética;
e detestou Mendel; Mendel apreciava ervilhas,
era austríaco, e sem o saber originou a genética:
é o que muitos afirmam; Mendel, nunca soube
que tinha fundado alguma coisa.
Os que dizem que fundou alguma coisa,
sem o saberem, ou os que depois
inventaram o termo GENÉTICA,
talvez apenas gostem de ervilhas!
Lysenko...não se sabe o que originou!
Pelo menos não o sabem os que o criticam
e apenas dizem que o malvado Lysenko
não queria a genética.
Lysenko não queria Mendel e não queria
ervilhas, nem flores de ervilhas.
Indiferente aos meus versos,
aos que trucidam Lysenko em manuais
que apenas são conhecidos no corredor
do Departamento dos autores,
a crisálida dorme sem saber que dorme;
dorme um sono frio e distante.
Dorme e não sonha, nem sabe
que dorme para acordar para a luz.

António Eduardo Lico

8 comentários:

  1. Esta poesía me parece divina...Me ha encantado lo de las crisálidas...

    Muchos besos.

    ResponderEliminar
  2. Pois é, António, ninguém consegue penetrar no grande mistério de Deus!
    ótima reflexão poética!
    um abraço

    ResponderEliminar
  3. Eu que também nada sei de genética, não consigo ficar indiferente a este belo poema.
    A este sono da crisálida. A esta metafísica pelos caminhos da linguagem poética.
    Abraços, caro amigo,

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Faz-me pensar nas palavras de Novalis - Quanto mais poético mais verdadeiro
      Abraço caro amigo.

      Eliminar