segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Miguel Torga, mais a personalidade que o autor, serve várias controvérisias. Abundantemente cidado pelos politiqueiros que vão poluindo Portugal, mas sempre com cuidado com o que citam.
Vale a pena citar aqui ditos de Torga que os politiqueiros de Portugal evitam citar, e mais, desejariam que nunca outros os lembrassem:

  • A política é para eles (os políticos) uma promoção e, para mim uma aflição
  • Falando acerca da regionalização, Torga afirma - O mundo a braços com o drama das diversidades e nós, que há oitocentos anos temos a unidade nacional no território, na língua, nos costumes e na religião, vamos desmioladamente destruí-la?
  •  Sobre a temática ligada à União Europeia é manifestamente contra e não se exime a afirmar: É o repúdio de um poeta português pela irresponsabilidade com que meia dúzia de contabilistas lhe alienaram a soberania(...) e Maastricht há-de ser uma nódoa indelével na memória da Europa.
Deixo o seu Orfeu Rebelde:



ORFEU REBELDE

Orfeu rebelde, canto como sou:
Canto como um possesso
Que na casca do tempo, a canivete,
Gravasse a fúria de cada momento;
Canto, a ver se o meu canto compromete
A eternidade no meu sofrimento.

Outros, felizes, sejam rouxinóis...
Eu ergo a voz assim, num desafio:
Que o céu e a terra, pedras conjugadas
Do moinho cruel que me tritura,
Saibam que há gritos como há nortadas,
Violências famintas de ternura.

Bicho instintivo que adivinha a morte
No corpo dum poeta que a recusa,
Canto como quem usa
Os versos em legítima defesa.
Canto, sem perguntar à Musa
Se o canto é de terror ou beleza.

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