sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Reponho uma poesia do poemário Amanhecer obscuro:


Pior que roubar um banco é fundar um banco

Bertold Brecht

Poema concreto

Escrevo poemas que quisera
efémeros, como o vento
que beija as flores
e levanta ondas ao mar
para logo se desfazem na areia da praia,
como se o mar todo se acabasse naquele momento.

O vento quando beija as flores
não é como um cheque, ou uma letra:
quando se acabam, os bancos emitem mais.
Mesmo que se lhes acabe o dinheiro,
emitem mais. Porque eu não posso
emitir o meu dinheiro quando se me acaba?
Quando se me acabam as flores, procuro por mais.
O vento quando beija as flores, beija-as
como se nunca acabasse, e se acabasse
o saldo não seria negativo.

Até o Olimpo e os belos deuses gregos
se acabaram; ninguém se importou
em emitir mais; depois vieram profetas
que emitiram deuses e paraísos diferentes

Os bancos e os banqueiros
emitem dinheiro como se
emitissem paraísos e divindades.
Houvera quem os roubasse
como o vento rouba das flores
os perfumes.

António Eduardo Lico

2 comentários:

  1. Somos todos nós, bancos de coisas que inúteis para alguns e bons para outros acabam por serem esquecidas...

    Abraço Lico,
    Felipe

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    1. É verdade, é verdade Felipe, também ha essa vertente.
      Abraço e bom fim de semana.

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