quinta-feira, 31 de maio de 2012

Alexandre O'Neill é o poeta de hoje.
Nascido em Lisboa em 1924 e falecido em Lisboa em 1986, O'Neill foi um dos mais importantes membros do surrealismo português. Embora tenha rompido com o surrealismo, a sua poesia foi apresentando sempre as marcas daquela corrente.
Pode dizer-se que na poesia de O'Neill se vislumbram influências do surrealismo a par com algumas experiências situadas bem próximo do concretismo.
Fica este poema:


Gato 

Que fazes por aqui, ó gato?
Que ambiguidade vens explorar?
Senhor de ti, avanças, cauto,
meio agastado e sempre a disfarçar
o que afinal não tens e eu te empresto,
ó gato, pesadelo lento e lesto,
fofo no pêlo, frio no olhar!

De que obscura força és a morada?
Qual o crime de que foste testemunha?
Que deus te deu a repentina unha
que rubrica esta mão, aquela cara?
Gato, cúmplice de um medo
ainda sem palavras, sem enredos,
quem somos nós, teus donos ou teus servos?

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