Uma poesia de Teresa Fonseca:
Quando as palavras são borboletas a sugar sais minerais dos ossos…
às vezes os frutos delas são vagas de asas a bater
indefesas
às vezes são colhidas
pela vida
da boca
em ritmo forte
quando a boca é um bico de filtro eficaz
as palavras soltam-se do ciclo letal
comem e defecam
ora a sopa nutritiva
ora o líquido venoso
vão ser
as palavras
solta-se o alarme
os cangalheiros das palavras vão a caminho
elas
são a morte encontrada
e sabem que não é preciso ter pressa porque com a dignidade da caçada
se tornarão lentamente necrófagas como abutres
são vespas grandes a embater nos vidros transparentes
e nós do outro lado
asfixiamos
com a protecção dos veados
na cabeça
e as palavras a zumbir como vespas
grandes
e a entrarem-nos pelo nariz pela boca pelos pêlos pelos poros da pele
num zumbido rizomático
comem-nos
defecam-nos
as palavras
e nós do outro lado do vidro
Teresa Fonseca nos dá uma bela lição de poética. As imagens são belíssimas.
ResponderEliminarAbr.,
Sim, sem dúvida. Uma bela poesia com belíssimas imagens.
EliminarAbraço
Ser aluno da Teresa foi uma das maiores realizações poéticas de toda mi vida. Sinto saudades desta voz afiada.
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