sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Uma poesia de Fernando Grade:



O PRESTES A AFOGAR-SE

O prestes a afogar-se tinha na jaqueta vermelha uma navalha em flor
um certificado de verticalidade cìvica um livro de cheques pleno de números redondos
tinha muitas coisas belas para conquistar os olhos das mulheres
Era um homem bom e poderoso o prestes a afogar-se
mas nada disto servia para atingir a outra margem
nem as unhas polidas nem os dentes brancos nem os cigarros de marca estrangeira
O prestes a afogar-se era um bom partido para qualquer donzela
com os seus olhos azuis um metro e setenta de esperteza
e uma cultura parisiense fora as regras avulsas da etiqueta
(ai como ele sabia falar do Prado e dos arranha-céus de New York!)
mas nada disto tinha ali razão de ser ou valor de troca


Naquele momento o prestes a afogar-se
homem culto sem vicios e sem manchas
tinha o maior defeito do mundo:
NÃO SABIA NADAR.

2 comentários:

  1. Bela escolha e obrigado por me apresentar este poema, que não o conhecia...

    Até mais Lico...

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    1. Obrigado Filipe.
      Já tinha colocado, tempos atrás uma outra poesia de Fernando Grade, que tem algumas das mais belas poesias dos últimos 30 anos.

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