sábado, 15 de junho de 2013

Reponho uma poesia do poemário Amanhecer obscuro:


Secreta dorme no seu casulo...

Secreta, dorme no seu casulo
um sono suspenso, a crisálida.
Se Darwin te visse!
Se um criacionista, ou mesmo dois,
pudessem penetrar o teu sono!
Até um adepto de Lamarck
poderia investigar o teu caso!
Não queria falar em Lamarck...
Já sei que me vão falar em Lysenko.
Trofim Lysenko para ser quase exacto.
Tinha mais um nome, mas não vou usá-lo.
Quero apenas ser quase exacto.
A exactidão aprende-se, não está na genética.
É isso, Lysenko não queria a genética;
e detestou Mendel; Mendel apreciava ervilhas,
era austríaco, e sem o saber originou a genética:
é o que muitos afirmam; Mendel, nunca soube
que tinha fundado alguma coisa.
Os que dizem que fundou alguma coisa,
sem o saberem, ou os que depois
inventaram o termo GENÉTICA,
talvez apenas gostem de ervilhas!
Lysenko...não se sabe o que originou!
Pelo menos não o sabem os que o criticam
e apenas dizem que o malvado Lysenko
não queria a genética.
Lysenko não queria Mendel e não queria
ervilhas, nem flores de ervilhas
Indiferente aos meus versos,
aos que trucidam Lysenko em manuais
que apenas são conhecidos no corredor
do Departamento dos autores,
a crisálida dorme sem saber que dorme;
dorme um sono frio e distante.
Dorme e não sonha, nem sabe
que dorme para acordar para a luz.

António Eduardo Lico

8 comentários:

  1. Há tempos e numa amena cavaqueira, um amigo propos que escolhessemos 3 poetas portugueses favoritos do
    sec. XX, escolhi: Pessoa & Cia, Eugénio de Andrade e Sophia M. B. Adresen... lendo com regularidade a sua poética vou te-lo que o adicionar, também, á minha lista de favoritos.
    Sinceramente, gosto de o ler.
    Bom fim de semana

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    1. Caro João, os poetas que refere são também da minha preferência, a que junto naturalmente outros como o António Ramos Rosa, o Herberto Helder, O Miguel Torga, e outros.
      Obrigado pelas suas palavras em reação à minha poética. São um estímulo para que mantenha a vigilância sobre o que escrevo.
      Bom Sábado.
      Abraço.

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  2. capullo crisálida y mariposa
    pura metáfora de la vida misma

    buen fin de semana

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  3. Não há como negar, de fato, que sabes o que fazes com as palavras. Este é mais poema, que, além de revelar a tua sensibilidade, nos dás uma lição de história e ciência.
    Abr.,

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    1. Meu Caro José Carlos, obrigado pela bondade das palavras para comigo e a minha poética.
      Um Abraço e bom fim de semana.

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  4. achei tão poético, mas eu acho que a crisálida dorme e sabe que dorme e sonha também...

    :)

    (PS:Só para contradizer o Poeta)

    :)

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    1. Obrigado Piedade. Fazes bem em contradizer o poeta.
      Bom Sábado.
      Beijos.

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