sábado, 23 de junho de 2012

O poeta de hoje é João Cabral de Melo Neto.
Nascido em 1920 no Recife e falecido em 1999 no Rio de Janeiro, Melo Neto foi poeta e diplomata.
A sua poesia abarca um espectro largo - vai do surrealismo até às formas populares de poesia, mas toda ela temperada um grande rigor estético.
Fica este poema:



Tecendo a Manhã

1.
Um galo sozinho não tece uma manhã:
ele precisará sempre de outros galos.

De um que apanhe esse grito que ele
e o lance a outro; de um outro galo
que apanhe o grito de um galo antes
e o lance a outro; e de outros galos
que com muitos outros galos se cruzem
os fios de sol de seus gritos de galo,
para que a manhã, desde uma teia tênue,
se vá tecendo, entre todos os galos.

2.
E se encorpando em tela, entre todos,
se erguendo tenda, onde entrem todos,
se entretendendo para todos, no toldo
(a manhã) que plana livre de armação.

A manhã, toldo de um tecido tão aéreo
que, tecido, se eleva por si: luz balão.

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