terça-feira, 27 de maio de 2014

Uma poesia de Jorge de Sena:

Deixai que a vida sobre vós repouse

Deixai que a vida sobre vós repouse 
qual como só de vós é consentida 
enquanto em vós o que não sois não ouse 

erguê-la ao nada a que regressa a vida. 
Que única seja, e uma vez mais aquela 
que nunca veio e nunca foi perdida. 

Deixai-a ser a que se não revela 
senão no ardor de não supor iguais 
seus olhos de pensá-la outra mais bela. 

Deixai-a ser a que não volta mais, 
a ansiosa, inadiável, insegura, 
a que se esquece dos sinais fatais, 

a que é do tempo a ideada formosura, 
a que se encontra se se não procura.

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