sexta-feira, 31 de maio de 2013

Uma poesia de Luís Amorim de Sousa:

O Velho no Parque

é por inconformismo 
que venho aqui sentar-me
neste parque mais velho do que eu

há um raio de sol que me conhece
e vem lamber-me as mãos quando
me vê

de resto não suporto este verde molhado
este romper de brancos e amarelos

sei de memória as vozes quotidianas
e atento aguardo a noite
que as sossega

a minha noite
pássaro sem asas
onde abrigar a célere cabeça

os meus navios afundei-os todos
ante um luar puríssimo humilhado

ó meu país
ó mapa desdobrado sobre a areia
não sei porque te invoco ó sepultura
aberta e saqueada

existes só no espaço em que te habito
aqui
numa praia distante entre as rochas e conchas
que me ferem os pés e me fazem sofrer

invoco-te e és real medonho e
impossível

ó flâmula hasteada
ó marinheiro triste nos porões

2 comentários:

  1. Luís Amorim de Souza sabe aprisionar o tempo e a memória. Belíssimo poema.
    Abr.,

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    1. Sim José Carlos. Eu conhecia muito pouco deste poeta, e de facto a poesia dele merece muita atenção.
      Abraço.

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