sábado, 4 de maio de 2013

Uma poesia de Nuno Dempster:

MANHÃ

Serena manhã, sol em que os cedros avultam
a sua eternidade. Carros passam na rua
como se não levassem ninguém no interior,
e nada mais espero do que sentir ainda
a blandícia da luz, pele em meus dedos cálida,
um rosto que celebro, a substância dos cedros
que flui branda num corpo, segredos do silêncio
donde a sabedoria de ser-se inteiro emana.
Oh, o tranquilo sol de uma manhã de inverno
que me lembra tão longas mãos! Devo pensar
na árvore sem folhas que vejo da janela,
imitar-lhe a existência sem tempo nem saber
como os cedros demonstram a sua eternidade,
receber este sol, seguro de que os deuses
só na era de Posídon seriam verdadeiros.
As quatro estações limitam-me, e as ilhas
que flutuavam no azul Egeu não mais existem.
Limitam, mas libertam-me as quatro estações,
e assim, o meu inverno, esta manhã sucinta
dilui-me na paisagem com a lembrança doce
de que a luz é o Sol, e aquelas longas mãos
volvem a antigos deuses as ilhas irreais.

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