terça-feira, 24 de abril de 2012

Nascido em 1928 e falecido em 1953, António Maria Lisboa é o poeta de hoje.
Apesar de ter morrido apenas com 25 anos, António Maria Lisboa foi um dos mais importantes poetas dos círculos surealistas. Avesso a escolas, preferia cahamar-se de "metacientista". Dizia que "A Surealidade não é só do Surrealismo, o Surreal é do poeta de todos os tempos, dr todos os grandes poetas", em carta a Mário Cesariny.
A obra de António Maria Lisboa, embora de cunho manifestamente surrealista possui facetas ligadas ao oculto e ao esoterismo que a tornam pessoal e única nos círculos surrealistas portugueses.
Fica este poema:


Rêve Oublié


Neste meu hábito surpreendente de te trazer de costas
neste meu desejo irreflectido de te possuir num trampolim
nesta minha mania de te dar o que tu gostas
e depois esquecer-me irremediavelmente de ti

Agora na superfície da luz a procurar a sombra
agora encostado ao vidro a sonhar a terra
agora a oferecer-te um elefante com uma linda tromba
e depois matar-te e dar-te vida eterna

Continuar a dar tiros e modificar a posição dos astros
continuar a viver até cristalizar entre neve
continuar a contar a lenda duma princesa sueca
e depois fechar a porta para tremermos de medo

Contar a vida pelos dedos e perdê-los
contar um a um os teus cabelos e seguir a estrada
contar as ondas do mar e descobrir-lhes o brilho
e depois contar um a um os teus dedos de fada

Abrir-se a janela para entrarem estrelas
abrir-se a luz para entrarem olhos
abrir-se o tecto para cair um garfo no centro da sala
e depois ruidosa uma dentadura velha
E no CIMO disto tudo uma montanha de ouro

E no FIM disto tudo um Azul-de-Prata.

António Maria Lisboa, in "Ossóptico e Outros Poemas"

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