quinta-feira, 13 de março de 2014

Uma poesia de José Miguel Silva:


Estava eu sentado

Estava eu no segundo passo da ditosa via sacra
da contracultura - charros, beatniks, Guy Debord -
quando dei comigo a ler um poeta conservador
e a pensar na beleza enigmática das suas imagens,

na mesa posta com autoridade; uma força
que me remetia para a precisão do mal e para
a contraposta redenção estética da vida.
Nessa altura conheci um rapaz que me dizia

as coisas mais desagradáveis, por exemplo:
"nem oito nem oitenta" ou "cuidado com
as vírgulas nos olhos". Foi ele que me ensinou
a não confundir a fome com a pressa de comer.

A condição natural do jovem lobo, dizia,
está na via sinuosa. As paredes de neve
cada vez mais alta, a vida retirada...

2 comentários:

  1. Tirei o chapéu para o poema de José Miguel que numa linguagem depurada nos faz olhar para aquela paisagem aparentemente quieta bem à nossa frente.
    Abraços,

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    1. Também conhecia pouco deste autor, e fiquei rendido à sua proposta poética.
      Abraço.

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