sexta-feira, 14 de junho de 2013

Reponho uma poesia do poemário Amanhecer obscuro:


Geografias

Escrevi uns versos em que falava
de oceanos tristes.
Os oceanos não são tristes; nem alegres.
São oceanos quando uns senhores
a que chamam geógrafos
decidem que são oceanos.
E decidem que são apenas oceanos; nem tristes, nem alegres.
Se eu escrevesse um verso assim:
“Oh taciturno Atlântico Oceano”.
Teria por certo exegetas, que iriam falar
de uma certa tendência classicista
nos meus versos; talvez até digam que eu estudei Latim...
Teria legiões de geógrafos a reclamarem
em cenáculos nacionais, internacionais e transnacionais
que de oceanos só eles podem falar.
Que nunca foi encontrado um oceano taciturno.
Eu não sou contra os geógrafos.
Devia haver muitos geógrafos. Milhões de geógrafos.
Tinham emprego garantido
A ensinar Geografia aos gringos.
O Mar Negro, é Mar Negro;
se fosse taciturno, ou fosse
outra coisa qualquer,
certamente estaria irritado com os geógrafos.
Os Mares também se irritam?
Porque é apenas Mar Negro
E não Oceano Negro?
Só os geógrafos o sabem.
Eu regresso à Água.

António Eduardo Lico

6 comentários:

  1. HOLA ANTÓNIO
    ESCRIBES MUY BIEN Y ESO LO TRANSMITES, A VECES LA TRADUCCION NO AYUDA MUCHO, PERO SÉ DE TU TALENTO.
    GRACIAS POR ESTAR SIEMPRE.
    UN BESO

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  2. Obrigado pelo teu olhar no blog Poetas Vivos, caro amigo!
    Que beleza de texto esta meditação sobre os oceanos, este jogo verbal, esta reflexão sobre o caráter da poesia e da geografia.
    Abraços,

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    1. Não tem que agradecer, Caro José Carlos, pois é um prazer, já que a sua poesia interessa.me pelo alto valor que possui.
      Obrigado também pela sua presença no meu blog.
      Abraço e bom fim de semana.

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  3. um poema sobre a geografia e os oceanos, com um misto de sabedoria mordaz.

    bom fim de semana.

    beijo

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