quarta-feira, 19 de junho de 2013

Uma poesia de Rita Grácio:


a Fernando Pessoa


aniversário


ofereceram-me um peixe no dia dos meus anos
‘eu era uma algibeira cosida pela humidade da casa antiga
duas semanas depois
o peixe vem à superfície para conhecer um mundo não aquático
‘onde permanece
a medusa é bela e ri
perdoaram-me a sua morte
‘sem autópsia
o que não se perdoa a uma mulher
dois pontos
‘as rugas imprópriasdemulher
‘as vestes imprópriasdemulher
‘os modos imprópriosdemulher
‘a letra gatafunhada a pôr grelado na direiteza das linhas das folhas
‘os palavrões em público e as desarrumações em privado
‘o laqueamento voluntário das portas
‘e os demais prefixos que negam the-woman-by-the-book
[como elamesma-e-outras-tantas-
i l h a s
amamentam o sono
depois das gárgulas

4 comentários:

  1. Respostas
    1. Tamb+em não conhecia esta autora; e quando tomei contacto com a poesia dela, decidi colocar esta belíssima poesia.

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  2. A poesia da Rita é capaz de levar o nosso riso, mas ela sabe bem mais que isso...
    Abr.

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    1. Trata-se de uma autora que desconhecia. Esta poesia, bem curiosa, atraiu-me.
      Abr.

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