Uma poesia de Miguel Monteiro:
Mármore & Vitral
— was bleibet aber
estilhaços de uma mente misturada
com um segundo caos. se houvesse quem
me falasse
da torre de Hölderlin,
da cidade destruída. e sozinho sta.
pois caótica é a ordem até que das janelas
os vitrais brilhem com o Sol. a Grécia
é luz velha. colher flores;
adónises, que importa? o fogo do inferno
na aurora, calmo, tocou-me as pálpebras,
e o valor está na lei — aquilo que restará
não bastaria. é um vidro quebrado
que brilha no chão. A grécia
está longe, do arquipélago, temos os nomes da pléiade
apagada no céu. Nomes nus,
se à distância ainda brilham estilhaços
de belo vitral duma mente,
canto adoneus se
houvesse água duma fonte branca,
recusaria. star sozinho,
a memória do Éden, seja mentira.
é mentira a memória quebrada. Conta-se
que houve uma vez um homem
que se salvou a si próprio do pântano
que se puxou pelos próprios cabelos. E quem
não puxará o mais belo dos retornos? A Grécia
é difícil. cantarolar com uma língua
de fogo, o sonho derrete-se gelado e em luz.
eu digo um nome para dizer
o outro. o que é que eu fiz?
começa, vê quem te acompanha.
onde estão os teus amigos?
escavei uma palavra, podei-lhe a palavra,
corri a via negativa. no fundo
sta o divino vitral. mas
de que profundezas virás tu, Deus-Sol,
quando a neve nos cobre os narcisos
e as nuvens são a noite do mundo?
mas com relâmpagos se queimam retinas.
só há um remédio para os equinócios,
deus-da-Páscoa, cantar a beleza de Chartres,
sub-rosa suspiros fixar nas retinas
dos olhos dos mortos que vêem o nada, dos vivos
que vêem a luz
dos seus deuses e cegam,
que viram ideias no eco das rimas e cantam.
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