sábado, 1 de junho de 2013

Uma poesia de António Maga:

Gelo

este peso gelado
da solidão,
a presença constante
de um corpo ausente
que quero morder;
afogar-lhe os olhos de lágrimas
de dor e medo
até sentir o sal do seu sangue
na minha língua.

vingar num corpo
inocente
de mulher
todas as noites
petrificadas.

o corpo parado
o olhar parado
e raiva
tanta.

eu só quero chorar
com o despudor
indecente
das mulheres do povo
nos funerais de aldeia.
eu só quero o carinho
meloso
que se dá aos cães,
eu quero um regaço de avó
e uma mão enrugada
moldando-me a cara
em gestos lentos.

só quero quebrar este gelo!
o gelo
que envenena o ar
paralisa o sangue e me
morde as entranhas numa acidez de lágrimas
castradas!

4 comentários:

  1. Vivas ao Maga, para compensar "a acidez das lágrimas castradas". Belíssimo poema.

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    1. Sem dúvida Caro José Carlos um belíssimo poeta o António Maga.
      Bom fim de semana.
      Abraço.

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