Uma poesia de Bernardim Ribeiro de "Saudades" ,ais conhecido por "Menina e Moça":
Pensando-vos estou, filha;
vossa mãe me está lembrando;
enchem-se-me os olhos dágua,
nela vos estou lavando.
Nascestes, filha, entre mágoa,
para bem inda vos seja,
que no vosso nascimento
vos houve a fortuna inveja.
Morto era o contentamento,
nenhuma alegria ouvistes;
vossa mãe era finida,
nós outros éramos tristes.
Nada em dor, em dor crescida,
não sei onde isto há de ir ter;
vejo-vos, filha, formosa,
com olhos verdes crescer.
Não era esta graça vossa
para nascer em desterro;
mal haja a desaventura
que pôs mais nisto que o erro.
Tinha aqui sua sepultura
vossa mãe, e a mágoa a nós;
não éreis vós, filha, não,
para morrerem por vós.
Não houve em fados razão,
nem se consentem rogar;
de vosso pai hei mor dó,
que de si se há de queixar.
Eu vos ouvi a vós só,
primeiro que outrem ninguém;
não fôreis vós se eu não fora;
não sei se fiz mal, se bem.
Mas não pode ser, senhora,
para mal nenhum nascentes,
com este riso gracioso
que tendes sobr’olhos verdes.
Conforto mas duvidoso,
me é este que tomo assim;
Deus vos dê melhor ventura
da que tivestes até aqui.
Que a dita e a formosura
dizem patranhas antigas,
que pelejaram um dia,
sendo dantes muito amigas.
Muitos hão que é fantasia;
eu, que vi tempos e anos,
nenhuma coisa duvido
como ela é azo de danos.
Mas nenhum mal não é crido,
o bem só é esperado,
e na crença e na esperança,
em ambas há uma mudança,
em ambas há um cuidado.
Me ha gustado mucho
ResponderEliminarSiempre un placer.
Besos.
Gracias.
EliminarBesos.
O poeta das éclogas, não é? Só falta trazer Sá de Miranda para aquecer a minha memória dessa rica literatura portuguesa de ontem. É verdade que é um ontem mais distante, mas você está deixando-o mais perto.
ResponderEliminarAbr.,
Já aqui postei Sá de Miranda em colocações anteriores. Não é que não o volte a fazer, mas a homenagem devida ao introdutor do soneto em Portugal já foi feita aqui no blog.
EliminarAbraço.