quarta-feira, 17 de julho de 2013

Ovídio Arte de Amar

Uma poesia da Arte de Amar de Ovídio, tradução de Natália Correia e David Mourºao-Ferreira:


Qual é o amante experimentado
que os beijos não misture com palavras de amor?
Mesmo que a tua amada tos não dê
rouba-lhe os beijos que não te quiser dar.
Talvez comece por resistência opôr
e te chame «insolente»,
mas resistindo pretende ser vencida.
Não molestes com beijos mal roubados
os seus lábios sensíveis, delicados;
que queixar-se não possa da tua grosseria.
Roubar um beijo e não roubar o resto
é uma falta de jeito que merece
perder os favores já concedidos.
Depois do beijo, ó homem, por que esperas
para outros desejos consumar?
Não é pudico o teu comportamento;
deste sim mostras de um tosco acanhamento.
Teria sido violência, dizes;
mas dessa violência não fogem as mulheres;
o que elas gostam de nos conceder,
muitas vezes concedem, resistindo.
A mulher violada por um rapto insolente
torna a violação como um doce presente;
e aquela que coagi-la fora fácil
e intacta se retira,
mesmo que o rosto alegria aparente,
vai com certeza descontente.
Foram Febe e a irmã violentadas.
Nem por isso ambas as raptadas
amaram menos aquele que as raptou.

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