segunda-feira, 1 de julho de 2013

Soneto de Camões

Um soneto de Camões:


Depois que quis Amor que eu só passasse
Quanto mal já por muitos repartiu,
Entregou-me à Fortuna, porque viu
Que não tinha mais mal que em mim mostrasse.

Ela, porque do Amor se avantajasse
Na pena a que ele só me reduziu,
O que para ninguém se consentiu,
Para mim consentiu que se inventasse.

Eis-me aqui vou com vário som gritando,
Copioso exemplário para a gente
Que destes dois tiranos é sujeita;

Desvarios em versos concertando.
Triste quem seu descanso tanto estreita,
Que deste tão pequeno está contente!

2 comentários:

  1. Amor, Fortuna e Camões bela tríade. Camões pelo desvario ou lucidez? Os outros dois pelos desconcertos no mundo.
    Abraços, António,

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    1. Os sonetos do Camões lidos hoje possuem uma actualidade notável. Para além da Arte e da Mestria, a temática resiste à erosão do tempo.
      Abraço.

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