sábado, 17 de março de 2012

Mais três poesias de O Canto em mim



O gato é um tigre melancólico

Um gato é um tigre melancólico.
Contenta-se em ser apenas gato,
com artifícios no olhar
e filosofia no corpo lânguido.
Caminhando vagarosamente
na beira do telhado, entre
chão e nuvens, quase rente ao voo,
é apenas um gato.
Nós é que gostamos de o imaginar
como se fora um tigre melancólico.


Este chão que piso

Este chão que piso, sustenta-me
e é a minha pequena pátria.
Este chão que piso
é onde os meus pés pisam.
Movo-me com cuidado
e quando me ausento
deste chão que piso, tenho saudades.
Regresso onde os meus pés pisam
e sei que estou na minha pequena pátria.


Leva-me o vento...

Leva-me o vento, brandamente,
como se empurrasse as velas
de um veleiro.
Deixo-me levar, porque quero,
a geografia não me interessa,
nem os mapas do meu ser
se podem cartografar.
Leva-me o vento, brandamente,
e nada faço, a não ser deixar-me levar.
Nada sei da rosa dos ventos,
sei apenas das rosas, essas,
a que o vento acaricia brandamente.


António Eduardo Lico


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