quinta-feira, 1 de março de 2012

Herberto Helder, nasceu em 1930 no Funchal.
Frequentou Direito e Filologia Românica, sem nunca ter terminado o curso. Teve várias profissões.
Assíduo na tertúlia do Café Gelo onde pontificavam Mário Cesariny, Luís Pacheco, Hélder Macedo e outros.
Data de 1954 a publicação da sua primeira poesia, em Coimbra.
Figura maior da Poesia, Herberto Helder é um dos nomes mais incontornáveis da Poesia contemporânea.
Fica aqui um poema de 1957:

Fecundo mês da oferta onde a invenção ilumina

Fecundo mês da oferta onde a invenção ilumina
a harpa, e a loucura desperta a pura espada
em pleno sangue; ó vasto,
amargo e límpido mês interior onde a graça
se toca do fogo e o corpo se torna casto
e longo varão de música: escada de seiva
entre arbustos de estrelas
e cubos de sal perpetuamente ardendo.
- Por ti, mês feliz de confusão e génio,
eu levanto a minha húmida boca
até ao anjo e ao vinho, levanto
a minha obscura pedra por vias de tormento
e instinto até
ao barro vermelho do céu, ao espasmo
violento e sagrado das palavras.
Mês por onde subo fundamente agitado
em meu coração de argila, em minha veias
de pequena infância espantada e grata;
e por onde, subindo, me incendeio e consumo,
e purifico as mãos espessas
de operário e macho.
- Entanto, mês delicado para uma corola
de nuvem, para um vivo transporte
de verde ternura entre mamas e coxas femininas.
e entre a areia e a lama se descobre
a ideia, se perde a memória, se possui
uma estreita palavra virgem e extrema como
um bago de veneno, um cálice
de morte.
Arde, mesa. Arde, instrumento de profunda
música. Arde, vinho. Carne,
ave, grande mar, grande estátua fria,
grande sorriso desfeito na face da solidão.
mês de onde nascem os bichos ébrios e a voz
das catedrais de resina e o flanco
terrível e doce das montanhas
e o amor irmão da morte e da alegria.
Mês do poema, substância de Deus servida
como ceia e primeira pedra no espaço
da minha angústia,
do meu encanto.
suave mês do incesto, sujo tempo
da gelada pureza aonde a lua desce
suas raízes ferozes
e onde a morte anuncia seus primeiros sinais
de glória.
- E eu dormia. O sangue atravessava a noite
como cantando baixo, o instinto
envolvia o punhal e o fruto. Tecedeiras
deixavam mãos sobre a atenção, flores
começavam e esfriavam ao comprimento das veias.
mês, mês! Um beijo caía sobre o peito, e o coração
subia no beijo. Gastava-se em cinza, renascia,
vibrava no beijo puro da loucura.
- Pela terra adiante crescia o trigo insensato
e divino canto, pela terra adiante
o perdão nascia das formas,
e por todas as coisas corria o sopro alucinado
e redentor
de um primeiro minuto de entre as mãos e a obra.
Fecundo mês da oferta onde a invenção ilumina
a harpa, e a loucura desperta a pura espada
em pleno sangue; ó vasto,
amargo e límpido mês interior onde a graça
se toca do fogo e o corpo se torna casto
e longo varão de música: escada de seiva
entre arbustos de estrelas
e cubos de sal perpetuamente ardendo.
- Por ti, mês feliz de confusão e génio,
eu levanto a minha húmida boca
até ao anjo e ao vinho, levanto
a minha obscura pedra por vias de tormento
e instinto até
ao barro vermelho do céu, ao espasmo
violento e sagrado das palavras.
Mês por onde subo fundamente agitado
em meu coração de argila, em minha veias
de pequena infância espantada e grata;
e por onde, subindo, me incendeio e consumo,
e purifico as mãos espessas
de operário e macho.
- Entanto, mês delicado para uma corola
de nuvem, para um vivo transporte
de verde ternura entre mamas e coxas femininas.
e entre a areia e a lama se descobre
a ideia, se perde a memória, se possui
uma estreita palavra virgem e extrema como
um bago de veneno, um cálice
de morte.
Arde, mesa. Arde, instrumento de profunda
música. Arde, vinho. Carne,
ave, grande mar, grande estátua fria,
grande sorriso desfeito na face da solidão.
mês de onde nascem os bichos ébrios e a voz
das catedrais de resina e o flanco
terrível e doce das montanhas
e o amor irmão da morte e da alegria.
Mês do poema, substância de Deus servida
como ceia e primeira pedra no espaço
da minha angústia,
do meu encanto.
suave mês do incesto, sujo tempo
da gelada pureza aonde a lua desce
suas raízes ferozes
e onde a morte anuncia seus primeiros sinais
de glória.
- E eu dormia. O sangue atravessava a noite
como cantando baixo, o instinto
envolvia o punhal e o fruto. Tecedeiras
deixavam mãos sobre a atenção, flores
começavam e esfriavam ao comprimento das veias.
mês, mês! Um beijo caía sobre o peito, e o coração
subia no beijo. Gastava-se em cinza, renascia,
vibrava no beijo puro da loucura.
- Pela terra adiante crescia o trigo insensato
e divino canto, pela terra adiante
o perdão nascia das formas,
e por todas as coisas corria o sopro alucinado
e redentor
de um primeiro minuto de entre as mãos e a obra.

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