domingo, 18 de março de 2012

O poeta deste Domingo é Carlos Oliveira. Tido como neo-realista, na verdade trata-se de uma classificação que é redutora da sua poesia.
Nascido em 1921 e falecido em 1981, Carlos Oliveira é uma das mais originais vozes da poesia portuguesa.



Casa


A luz de carbureto

que ferve no gasómetro do pátio

e envolve este soneto

num cheiro de laranjas com sulfato

(as asas pantanosas dos insectos

reflectidas nos olhos, no olfacto,

a febre a consumir o meu retrato,

a ameaçar os tectos

da casa que também adoecia

ao contágio da lama

e enfim morria numa cama)

a pedregosa luz da poesia

que reconstrói a casa, chama a chama.

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