Soneto da guitarra e da rosa
A guitarra, com ser madeiro oco
Espalha a sua canção dolente;
Das cordas o som é uma torrente
Como se fora duende barroco
A rosa é guitarra que invoco
Cada entardecer ao sol poente;
Harmónico o perfume nascente,
Ao sul destes dedos com que te toco
Na rosa há melodias serenas
Pela guitarra galopam volúpias
E de súbito nascem cantilenas
E na guitarra nascem utopias
Quando nas rosas vemos açucenas
E levantamos do som as mãos ímpias
Música com chuva
Redondas, as gotas, são elas
que formam a harmonia
da música que tocam ao beijar o chão
Iansã, rosa preta
Iansã, rosa preta que vives no vento;
que mistério prende os teus cabelos de
oiro
e os prende com flores vermelhas?
Saudade de quando eras Oyá
e corrias nas águas de um rio,
e mansamente voavas com o vento
que nascia em ti.
És água e és fogo
e rosa preta.
António Eduardo Lico
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